É a primeira vez que este organismo internacional acusa o regime de Bashar al-Assad da autoria de ataques químicos.

A conclusão consta do primeiro relatório da Equipa de Identificação e Investigação (ITT) da OPAQ, criada em 2018.

Cabe agora ao conselho executivo da OPAQ, “ao secretário-geral das Nações Unidas e à comunidade internacional no seu conjunto tomarem as medidas que considerarem apropriadas e necessárias”, explicou, em comunicado, o diretor-geral da OPAQ, Fernando Arias.

O coordenador da equipa de investigação, Santiago Onate-Laborde, concluiu haver “razões fundamentadas para crer que os perpetradores do uso de sarin como arma química em Latamné a 24 e 30 de março de 2017 e o uso de cloro como arma química a 25 de março de 2017 foram indivíduos pertencentes à Força Aérea síria”, segundo o mesmo comunicado.

A investigação, explicada nas 82 páginas do relatório, incluiu entrevistas com testemunhas, análise de amostras colhidas nos locais dos ataques, avaliação dos sintomas reportados pelas pessoas afetadas aos médicos e análise de imagens de satélite.

O relatório concluiu que a 24 de março, um avião militar Su-22 da 50.ª brigada da 22.ª divisão da Força Aérea síria partiu da base aérea de Shayrat e largou uma bomba aérea M4000 contendo sarin no sul de Latamné, afetando pelo menos 16 pessoas.

Um dia depois, um helicóptero da Força Aérea largou um cilindro sobre o hospital da cidade, que penetrou o telhado, abriu-se e largou cloro.

Os investigadores, lê-se no relatório, “obtiveram informação de que até três pessoas morreram e pelo menos 32 ficaram feridas”.

Uma das vítimas mortais era um cirurgião que estava a operar no momento do ataque.

A 30 de março, um avião Su-22 lançou uma bomba M4000 contendo sarin no sul de Latamné, afetando pelo menos 60 pessoas.

“Ataques desta natureza estratégica só podiam ter ocorrido com base em ordens de autoridades superiores do comando militar da República Síria Árabe. Mesmo que a autoridade possa ser delegada, a responsabilidade não pode”, escreveu o coordenador da investigação.

Um outro relatório da IIT, que deverá ser divulgado nos próximos meses, incide sobre um ataque com cloro que fez cerca de 40 mortos em Duma em abril de 2018.

A equipa de investigação da OPAQ foi criada depois de a Rússia ter bloqueado a extensão de um mecanismo de investigação da OPAQ e da ONU, criado em 2015, que acusou a Síria de usar cloro em pelo menos dois ataques em 2014 e 2015 e de usar sarin num ataque aéreo em Khan Sheikun em abril de 2017 que matou cerca de 100 pessoas.

O regime sírio tem negado repetidamente qualquer envolvimento em ataques químicos, afirmando ter colocado todos os seus ‘stocks’ de armas químicas sob supervisão internacional ao abrigo de um acordo de 2013.