“Enquanto a investigação está em curso, a EMA continua a considerar que os benefícios da vacina AstraZeneca na prevenção da covid-19, com o risco associado de hospitalização e morte [devido à pandemia], superam os riscos de efeitos secundários”, vinca o regulador europeu em nota de imprensa.

Numa altura em que “várias autoridades responsáveis pelas campanhas nacionais de vacinação nos países da UE decidiram fazer uma pausa temporária” no uso da vacina da AstraZeneca, a EMA esclarece que esta decisão se traduz numa “precaução tomada à luz da sua situação nacional”.

“Os eventos envolvendo coágulos de sangue, alguns com características invulgares como o baixo número de plaquetas, ocorreram num número muito reduzido de pessoas que receberam a vacina”, contextualiza o regulador europeu, acrescentando que “o número de eventos tromboembólicos em geral nas pessoas vacinadas não parece ser superior ao verificado na população em geral”.

Além disso, “muitos milhares de pessoas desenvolvem anualmente coágulos de sangue na UE, por diferentes razões”, assinala.

Ainda assim, a agência europeia assegura estar a investigar “uma série de eventos de coágulos de sangue em pessoas que tinham recebido a vacina”.

“A investigação da EMA tem prosseguido durante o fim de semana e nos próximos dias será efetuada uma análise rigorosa de todos os dados relacionados com eventos tromboembólicos”, anuncia o regulador europeu, vincando que “os peritos estão a analisar em grande pormenor todos os dados e circunstâncias clínicas disponíveis em torno de casos específicos para determinar se a vacina pode ter contribuído ou se o evento é suscetível de se ter devido a outras causas”.

Caberá ao comité de segurança da EMA discutir esta situação na reunião marcada para terça-feira e no encontro extraordinário de quinta-feira, dia no qual o regulador europeu irá emitir conclusões sobre as informações recolhidas e quaisquer outras ações que possam ter de ser tomadas.

“A pandemia da covid-19 é uma crise global, com impacto devastador na saúde, social e económico, e continua a ser um fardo importante para os sistemas de saúde da UE. As vacinas para a covid-19 ajudam a proteger os indivíduos de ficarem doentes, especialmente os profissionais de saúde e as populações vulneráveis, tais como os idosos ou as pessoas com doenças crónicas”, adianta a EMA.

Esta tomada de posição decorre numa altura em que vários países suspenderam por precaução o uso da vacina da AstraZeneca, como Holanda, Irlanda, Alemanha, Itália e França, devido à formação de coágulos sanguíneos em alguns dos vacinados.

Especialista considera que a informação científica mostra que vacina da AstraZeneca é segura

O virologista Pedro Simas afirmou hoje que a informação científica demonstra que a vacina da AstraZeneca, suspensa em vários países por precaução, é segura, defendendo que deve continuar a ser administrada em Portugal para “salvar vidas”.

“Toda a evidência (informação) científica, que é muito forte, indica que a vacina é segura, tanto nas fases 1, 2, 3, como agora na fase 4, não havendo nenhuma razão para o nosso país suspender a sua utilização”, afirmou à Lusa o especialista do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.

O especialista lembrou que no Reino Unido já foram inoculadas com esta vacina mais de onze milhões de pessoas e na União Europeia cerca de cinco milhões de pessoas e, até agora, “não foram reportados eventos tromboembólicos superiores àqueles que seriam esperados normalmente”.

“Isso é uma evidência (prova) muito grande de que a vacina é segura”, adiantou Pedro Simas, ao salientar que na fase 4 que está a decorrer, na qual já foram inoculadas pelo menos 16 milhões de pessoas, o novo fármaco tem demonstrado que é seguro.

“Temos muito poucas vacinas [em Portugal, não podemos deixar de vacinar as pessoas quando a vacina é segura”, defendeu o virologista, ao manifestar-se, perante a informação científica disponível até ao momento, de acordo com a posição tomada pela Organização Mundial de Saúde e pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e pela Direção-Geral de Saúde.

“Temos de tomar, neste momento, decisões com base na evidência (prova) científica que nos diz que a vacina é segura”, afirmou.

Hoje, o diretor do Oxford Vaccine Group garantiu que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo grupo farmacêutico anglo-sueco AstraZeneca é segura, alegando que há "evidências (provas) muito tranquilizadoras de que não há aumento no fenómeno do coágulo sanguíneo no Reino Unido, onde a maioria das doses na Europa foram administradas até agora".

No domingo, em comunicado, a AstraZeneca disse que "uma revisão cuidadosa” dos dados de segurança disponíveis sobre mais de 17 milhões de pessoas vacinadas na União Europeia e no Reino Unido "não produziu evidências (provas) de um risco aumentado de embolia pulmonar, trombose venosa (TVP) ou trombocitopenia em qualquer faixa etária, sexo, lote ou país específico”.

O governo holandês decidiu no domingo suspender o uso desta vacina, por precaução, até 28 de março, depois de "possíveis efeitos colaterais" terem sido relatados na Dinamarca e na Noruega com a vacina AstraZeneca, ainda sem ligação comprovada, de acordo com Ministério da Saúde.

Hoje, a Irlanda tomou a mesma decisão, depois de relatos de quatro novos casos graves de coágulos sanguíneos em adultos vacinados na Noruega.

Por sua vez, a Noruega, que também relatou hemorragias cutâneas em jovens vacinados no sábado, suspendeu a vacina na semana passada, assim como a Dinamarca, Islândia e Bulgária.

Na semana passada, numa conferência de imprensa em Genebra, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu que não havia qualquer razão para não usar a vacina da AstraZeneca.

A porta-voz da OMS sublinhou que os especialistas da organização estão ainda a analisar a informação sobre a formação de coágulos sanguíneos, mas referiu que, por enquanto, não foi estabelecida qualquer relação de causa-efeito.

“Qualquer alerta de segurança deve ser alvo de investigação. Temos que assegurar que estudamos todos os alertas de segurança quando distribuímos as vacinas e temos de passar por eles, mas não existe qualquer indicação para não utilizar [as vacinas]”, frisou Margaret Harris.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Infarmed afirmaram no domingo que a vacina da AstraZeneca pode continuar a ser administrada e frisaram que não há provas da ligação com os casos tromboembólicos registados noutros países.

No comunicado conjunto, a DGS e o Infarmed recordam que os casos notificados na Noruega “estão a ser avaliados pelo Comité de Segurança, PRAC, da Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos (EMA)", esperando-se uma conclusão durante esta semana, uma análise que Pedro Simas considerou ser “muito importante”.