Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse que “as alegações são muito preocupantes”.

O portal de investigação jornalística Bellingcat noticiou na segunda-feira que Abramovich e dois delegados ucranianos tinham sofrido sintomas de envenenamento por um agente neurotóxico depois de participar das negociações de paz entre Moscovo e Kiev em 3 de março.

Abramovich, cujo papel exato nas negociações não foi confirmado, recuperou, entretanto, dos sintomas.

Um investigador do Bellingcat disse que a dose não era letal e a explicação “mais plausível” para o suposto ataque é que foi um aviso para Abramovich e para outros magnatas russos que potencialmente possam vir a intervir nas conversações.

“Ele ofereceu-se para desempenhar (…) esse papel de mediador, mas outros oligarcas (…) declararam uma certa independência da posição do Kremlin e criticaram a guerra”, disse um investigador do ‘site’ jornalístico, Christo Grozev, à Times Radio.

“Portanto, pode muito bem ser visto como um aviso para não se juntarem às fileiras daqueles que discordam e não serem mediadores”, acrescentou.

Moscovo negou o incidente, tendo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondido hoje que a alegação “faz parte da guerra de informação” contra a Rússia e que “esta informação não corresponde, obviamente, à realidade”.

Peskov confirmou, por outro lado, que Abramovich, que também tem nacionalidade portuguesa, está presente nas negociações russo-ucranianas que começaram hoje em Istambul, na Turquia.

“Abramovich desempenha um papel no estabelecimento de contactos entre os lados russo e ucraniano”, disse, embora tenha salientado que “ele não é um membro oficial” da delegação russa liderada pelo ex-ministro da Cultura Vladimir Medinski.

Abramovich, dono do clube de futebol londrino Chelsea, é um dos vários oligarcas russos com ativos congelados no Reino Unido e na União Europeia (UE), uma vez que Londres e Bruxelas consideram que ele e outros magnatas russos têm relações com o regime do Presidente russo, Vladimir Putin.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.151 civis, incluindo 103 crianças, e feriu 1.824, entre os quais 133 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.

A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.