De acordo com essa plataforma que reúne universidades, organizações não-governamentais e empresas de tecnologia, e que fez o estudo com a ajuda de imagens de satélite e inteligência artificial, entre 1985 e 2020 o Brasil desflorestou cerca de 820 mil quilómetros quadrados de cobertura vegetal, quase 9,64% do seu território e uma área equivalente ao dobro do tamanho do Paraguai.

Mas, de toda essa área perdida, apenas 13.120 quilómetros quadrados, o equivalente a 1,6% do total, estavam em reservas indígenas já delimitadas ou que aguardam demarcação.

Essa pequena percentagem demonstra a capacidade de preservação ambiental das populações indígenas, cujos 488 territórios demarcados, segundo dados do Governo, ocupam 12% dos 8,6 milhões de quilómetros quadrados do país.

“A maior parte das terras indígenas preservou as suas características originais em 36 anos, o que comprova o valioso serviço ambiental que essas comunidades prestam ao Brasil”, afirmou, em comunicado, a MapBiomas, iniciativa que conta com o apoio tecnológico da Google e tem entre os seus associados organizações ambientais internacionais, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e Conservación Internacional.

A coordenadora científica da MapBiomas, Julia Shimbo, declarou à agência espanhola Efe que enquanto a desflorestação sofrida pelo Brasil em 36 anos afetou apenas 1,6% das reservas indígenas, essa percentagem foi de 68% em terras privadas.

“As imagens de satélite não deixam dúvidas: quem mais cuida da Amazónia são os indígenas”, frisou o coordenador da MapBiomas, Tasso Azevedo.

De acordo com o estudo, entre 1985 e 2020, o Brasil perdeu 530 mil quilómetros quadrados de floresta, ou seja, 12% do seu total de bosques e florestas, 210.000 quilómetros de vegetação de savana ou cerrado (16%) e 80.000 quilómetros quadrados de outros tipos de vegetação natural (12%).

Em percentagens, a área coberta por floresta no Brasil caiu de 52,8% em 1985 para 46,5% em 2020, a área de vegetação de cerrado diminuiu de 15,4% para 13,0% no mesmo período e a de outros tipos de vegetação natural de 7,5 % para 6,6%.

Essa área foi devastada principalmente para dar lugar à agropecuária, cuja extensão cresceu 44,6%, o que acabou tornando o país sul-americano num dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo.

Atualmente, a área destinada à agropecuária no Brasil equivale a 30,9% do território nacional (incluindo 18,2% de pastagens) e a área sem vegetação a 0,7% (incluindo 0,5% de área urbana).

A divulgação de que as terras indígenas são um modelo de preservação ocorre num momento em que o Supremo Tribunal Federal e o Congresso brasileiros discutem medidas que ameaçam os direitos dos povos nativos sobre os seus territórios.

Já o Presidente, Jair Bolsonaro, não criou nenhuma reserva indígena desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, retardando ainda mais o processo de garantia de terras aos indígenas.

Durante o Governo de Michel Temer (2016-2018) apenas uma reserva foi definida, enquanto Dilma Rousseff (2011-2016) definiu 21, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) 87 e Fernando Henrique Cardoso (1985-2002) 145.