Em todo o continente europeu, onde mais de 278.000 pessoas morreram desde o início da pandemia e mais de 10,4 milhões foram infectadas, o número de novos casos registados aumentou 41% numa semana, ou seja, metade dos contágios contabilizados no mundo nos últimos sete dias.
Tal subida de casos, podendo provocar o colapso iminente dos hospitais, obrigou os governos a restringir novamente a liberdade de movimento e a fechar setores inteiros da economia.
Diante do temor de um desastre social, no sábado aconteceram protestos, pela segunda noite consecutiva, em várias cidades da Espanha, incluindo confrontos com a polícia, atos de vandalismo e saques.
Os maiores distúrbios aconteceram em Madrid, onde muitos manifestantes gritaram "Liberdade", incendiaram caixotes do lixo e ergueram barricadas na Gran Via, a principal avenida da capital, segundo imagens compartilhadas nas redes sociais.
Foram também registados distúrbios em Málaga e Barcelona. A polícia anunciou que 32 pessoas foram detidas.
Em Logronho (La Rioja) sete polícias ficaram feridos e foram detidas seis pessoas, na sequência de distúrbios. Cerca de 150 jovens radicais queimaram contentores e apedrejaram a polícia. Segundo a delegação do Governo em La Rioja registaram-se também distúrbios noutros municípios, nomeadamente em Haro.
Em Logronho, onde a hotelaria está fechada desde sexta-feira e durante um mês, os manifestantes colocaram contentores nas ruas e cortaram o trânsito nas proximidades das sedes do governo local e da delegação do Governo de Madrid, no centro da cidade.
Manifestações ocorreram também em Bilbau (País Basco), onde quatro jovens foram detidos após motins de grupos que se opunham às medidas aprovadas para combater a covid-19. Ao mesmo tempo em Vitória registaram-se atos de vandalismo no centro da cidade e em San Sebastian, Arrasate e Eibar, na província de Guipúzcoa (também País Basco) foram queimados contentores do lixo.
No sul do país, em Málaga (Andaluzia), grupos de manifestantes em protesto contra as medidas restritivas aplicadas pelo Governo também destruíram contentores do lixo e atearam fogos.
Com quase 36.000 mortes, a Espanha é o terceiro país do mundo com a maior taxa de mortalidade devido à Covid-19, com 77 óbitos para cada 100.000 habitantes, atrás do Peru (105) e da Bélgica (100).
O país vizinho determinou o recolher obrigatório nacional e a maioria das regiões espanholas adotou a proibição da saída dos seus territórios para impedir viagens para regiões vizinhas.
A revolta dos comerciantes
Após a imposição do recolher obrigatório em várias regiões, o encerramento de bares e restaurantes às 18:00h, além da interrupção das atividades de ginásios, cinemas e salas de espetáculo, o governo da Itália estuda a possibilidade de anunciar esta segunda-feira um confinamento das grandes cidades, de acordo com a imprensa local.
"A curva epidemiológica ainda é muito elevada", afirmou o ministro da Saúde, Roberto Speranza. A oposição às restrições também provocou confrontos em grandes cidades do país nos últimos dias. O autarca de Florença, por exemplo, pediu calma depois de confrontos violentos no sábado entre manifestantes e polícia.
Na França, que retomou o confinamento — que deve durar um mês — na sexta-feira, aumenta a revolta dos comerciantes considerados não essenciais, obrigados a fechar as portas, que denunciam a concorrência desleal das grandes lojas, autorizadas a permanecer abertas, e das plataformas online, como a Amazon.
O primeiro-ministro poderá decidir o encerramento nas grandes lojas das "prateleiras de produtos que não são de primeira necessidade", afirmou neste domingo o ministro da Economia, Bruno Le Maire.
No Reino Unido, país mais afetado da Europa, com pelo menos 46.555 mortos, o novo confinamento anunciado na Inglaterra para começar na quinta-feira e prosseguir até 2 de dezembro pode ser prolongado, de acordo com o ministro Michael Gove, o que aumenta a angústia dos setores económicos. Este novo confinamento é um "pesadelo antes do Natal", reclamou Helen Dickinson, diretora geral da federação de comerciantes britânicos.
A Grécia, que anunciou o confinamento de um mês em Atenas e outras grandes cidades a partir de terça-feira, deseja "tentar salvar as festividades de Natal", afirmou o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis.
Durante o 'lockdown' grego, será proibida a circulação entre a meia-noite e as 05:00h. Bares, restaurantes e locais de lazer em Atenas e outras cidades permanecerão fechados. O restante do país terá que respeitar o recolher noturno e o uso obrigatório de máscaras, inclusive ao ar livre.
Outros países também endureceram as restrições como a Alemanha e a Áustria, país de 8,8 milhões de habitantes e que regista mais de 5.000 casos diários e cujo segundo confinamento entrará em vigor na terça-feira e deve prosseguir até o fim de novembro.
"Nenhum evento será possível. Isto inclui os setores de desportos, cultura e lazer. Os hotéis terão de fechar, com exceção das viagens de negócios e também seremos obrigados a fechar restaurantes e cafés, com exceção de comida para levar", explicou o chanceler austríaco, Sebastian Kurz.
O ministro da Saúde da Bélgica, Frank Vandenbroucke, fez um apelo para que a população não saísse às compras neste domingo, véspera do início de medidas mais restritivas por seis semanas.
Em Portugal, o Conselho de Ministros decidiu no sábado que 121 municípios vão ficar abrangidos, a partir de quarta-feira, pelo dever cívico de recolhimento domiciliário, novos horários nos estabelecimentos e teletrabalho obrigatório, salvo “oposição fundamentada” pelo trabalhador, devido à covid-19.
Os restaurantes nestes 121 concelhos têm de fechar até às 22:30 e todos os estabelecimentos comerciais terão de encerrar, na generalidade, às 22:00.
Também nestes territórios — que representam 70% da população residente -, ficam proibidas as feiras e os mercados de levante, e os eventos e celebrações ficam limitados a cinco pessoas, exceto nos casos em que os participantes pertencem ao mesmo agregado familiar.
Os concelhos abrangidos têm mais de 240 casos de infeção com o vírus da covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e será este o critério que servirá para atualizar a lista de municípios sujeitos a medidas restritivas a cada 15 dias, seguindo um princípio definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. Há uma exceção para surtos localizados em concelhos de baixa densidade.
Duas outras medidas aprovadas no sábado abrangem todo o território continental e não apenas estes 121 concelhos: limitação de grupos de seis pessoas nos restaurantes e prolongamento da situação de calamidade por mais duas semanas.
*com agências
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