25 de abril de 1974, foi um dia que ficou gravado na memória de muitos portugueses de forma indelével. Não ficou na minha. Para mim, com apenas alguns meses de vida, foi só mais um dia de primavera. Hoje, penso saber a sua real importância na nossa história, ainda que, por tudo o que li e ouvi de pessoas próximas, acredite que só quem viveu o antes valoriza plenamente o depois. Ou seja, só quem se viu privado de algo como educação, liberdade e respeito sabe verdadeiramente como são preciosos cada um desses direitos.

Pensei nas causas de uma revolução, no porquê de acontecerem ou não em determinado momento, e conclui que são o culminar da mudança que se dá, em primeiro lugar, no nosso interior.

Como a borboleta que nasce de um processo de metamorfose, lento, calmo, e finalmente doloroso, as grandes mudanças começam assim, devagarinho, discretamente, até que surgem, e são impossíveis de conter.

É ao analisar uma revolução em retrospetiva que percebemos melhor como se alimentou, ou como se deu o ponto de não retorno. Acendem-se no nosso cérebro os episódios que se foram acumulando e que contribuíram, cada um com a sua quota parte, para o resultado final. E assim compreendemos.

Ao olharmos para um evento revolucionário, temos tendência, mesmo sem conhecer todos os factos, de afirmar que foi por este ou aquele motivo que a mudança se deu. São os catalisadores ou momentos chave, carregados de energia transformadora, porque tal como o incêndio que precisa de uma faísca para começar, e só arde se tiver oxigénio e combustível, assim é uma revolução. A tal faísca marca o início, mas ela avança porque amadureceu e estamos prontos para a alimentar.

Por tudo isto, penso que a revolução de abril aconteceu porque os intervenientes, diretos ou indiretos, tinham já dentro de si a recetividade necessária, o que lhes permitiu acolhê-la e processá-la no momento em que surgiu.

Agora, não pensem que depois de uma qualquer revolução tudo fica mais fácil. Não fica. Há cacos para apanhar, lixo para limpar, lágrimas para secar. Há um sentido de direção ainda mal definido, há um respirar fundo depois de uma apneia gigante, mas acima de tudo há que arregaçar a mangas e trabalhar para voltar a encontrar o nosso lugar. Porque se baixarmos os braços, a pensar que já está tudo feito, rapidamente as ervas daninhas encobrirão os escombros, o esquecimento embrutecerá o espírito, e a dúvida roubar-nos-á a capacidade de agir.

E aí a história repete-se, porque a autonomia, a privacidade ou outros direitos que tanto custam a ganhar perdem-se facilmente num momento de distração.

Tens andado atento?


Texto por Natália RodriguesHoje, dia 25 de abril, publicamos uma seleção dos textos que resultaram da iniciativa lançada pelo SAPO24 e O Primeiro Capítuloassinados por novos nomes de quem tem na escrita uma forma de expressão.