Cadoiço Vivo é um projeto liderado pela associação Almargem, apoiado pela Câmara Municipal de Loulé, em Faro, e financiado pelo Fundo Ambiental com o intuito de retirar espécies invasoras, plantar vegetação autóctone, instalar abrigos para aves, insetos e morcegos e estabilizar as margens da ribeira através da chamada engenharia natural.

“Introduzimos várias espécies que sabemos que são adequadas, não só para a renaturalização da ribeira, para que tenhamos aqui natureza nativa de Portugal, mas também para estabilizar as margens da ribeira”, revelou o coordenador do projeto, André Pinheiro, numa visita da Lusa ao local que demorou cerca de quatro meses a ser intervencionado.

André Pinheiro, biólogo, junto a um terreno adjacente à ribeira, recentemente adquirido pelo município, assume que foi necessária uma atenção especial aos trabalhos, já que o curso de água “está muito perto de vivendas” e houve a necessidade de impedir que as margens “começassem a fraquejar” pelas espécies que foram removidas. Para isso, foram usadas técnicas de engenharia natural que procuraram combinar a utilização de plantas e árvores com outros materiais construtivos, de modo a consolidar zonas instáveis e encostas, e prevenir a erosão.

De notar que estas intervenções são visíveis ao longo de 800 metros do percurso da ribeira, desde a cascata, junto a uma bomba de gasolina na saída sul da cidade, onde o curso de água sai de um percurso subterrâneo, até à zona da Parrela.

O espaço adjacente à ponte dos Álamos é dos mais notórios, com um reforço das margens com pedras e troncos de árvores cortadas na intervenção, plantação de espécies vegetais e até a instalação de um hotel de insetos - estrutura que desperta a curiosidade de quem por lá passa. A colocação deste tipo de abrigos, assim como de caixas-ninho para aves e morcegos em “zonas estratégicas”, serve para “dar um pouco mais de força às espécies de fauna que é suposto existirem na ribeira”,  aponta o biólogo.

De salientar que no total do processo de renaturalização foram removidas 40 toneladas de espécies de plantas invasoras e plantados 100 árvores e arbustos nativos. Foram colocados 13 abrigos para morcegos, 30 caixas-ninho para aves e ainda quatro hotéis para insetos.

“Para que as crianças percebam a importância de proteger a diversidade animal, visitando as zonas que foram reabilitadas e acompanhando a sua evolução nos próximos meses, que esperamos que seja bastante rápida”, comenta André Pinheiro sobre a educação ambiental também pretendida.

André Pinheiro destaca que a ribeira, apesar de “muito pouco conhecida, mesmo por louletanos”, é vital para fauna e flora, já que “tem sempre água” em momentos em que outras ribeiras podem secar completamente, sendo o local para onde muitas espécies “vão acabar por convergir e conseguir prosperar”.

A ribeira atravessa uma zona historicamente agrícola que durante muitos anos serviu de fonte de abastecimento da cidade de Loulé e a sua renaturalização é vista pelo município como o primeiro passo para a reconciliação das duas áreas, com a criação do Parque Urbano e Agrícola de Loulé.

“A ribeira do Cadoiço é o esqueleto deste parque. É a ribeira que vai desaguar nas zonas húmidas que pretendemos classificar como áreas protegidas”, afirma a vereadora do Urbanismo Heloísa Madeira, referindo-se às zonas húmidas do Almargem-Trafal, situadas quase 10 quilómetros mais a sul, em Quarteira, e que a autarquia pretende ligar ao Parque Urbano e Agrícola com a “criação de um corredor verde com 54 hectares”.

O projeto “está ainda em fase embrionária” mas a vereadora assume que irá criar condições para que os “residentes e visitantes consigam de uma forma sustentável - a pé ou de bicicleta - ir de uma cidade à outra, usufruindo de tudo o que este território pode oferecer”.

Para já, a autarquia está concentrada na criação do parque e na classificação das zonas húmidas como áreas protegidas para depois, em sede de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), criar o corredor verde.

Contudo, a governante destaca que estes projetos de recuperação só são possíveis com a “colaboração das associações ambientais, com uma grande participação dos cidadãos”.

Para além disto, Heloísa Madeira afirma ser “essencial envolver a comunidade escolar” nestes projetos, trazendo os alunos e a escola, “mostrando-lhes o território que muitas vezes lhes é desconhecido”.

Texto de Pedro Miguel Duarte/Agência Lusa

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