Numa intervenção de 45 minutos no American Club, em Lisboa, Rio retomou o diagnóstico que tem feito sobre os problemas do país, que considera assentarem em estrangulamentos estruturais de ordem económica, social e, sobretudo, política.
“Nenhum Governo sozinho tem o peso político, mesmo que tenha maioria absoluta, não vai conseguir em circunstância nenhuma resolver estrangulamentos absolutamente estruturais que o país tem e que deixou levar a um ponto que, agora, nem um partido com maior absoluta consegue resolver”, defendeu.
O líder do PSD reiterou, por isso, o seu apelo aos consensos partidários, ainda que, admitiu, tal o faça por vezes “parecer um E.T.” aos olhos sobretudo dos mais jovens.
“Compreendo que alguém com 40, 45 anos se deixe entusiasmar muito por o que vai acontecer no imediato e possa tender a pôr de lado o que é verdadeiramente importante. Mas aqueles que são um pouco mais velhos, compreenderão melhor o que estou a dizer: aquilo que a mim verdadeiramente me preocupa é aquilo que pode ser o meu/nosso legado para o futuro do país, independentemente do que possa acontecer no curto prazo”, afirmou.
“O que possa acontecer no curto prazo já não tem muito a ver com o meu futuro, por força da franja etária em que me encontro”, afirmou o líder do PSD, que tem 61 anos.
Rio realçou que já tentou pôr em prática o que defende, nomeadamente quando apresentou aos restantes partidos uma proposta de reforma da justiça, sem a tornar pública, para que pudessem aderir a ela sem medo de que o mérito pudesse ser apenas atribuído ao PSD.
“Parecia que eu era um E.T. que não sabia o que andava aqui a fazer, vinha lá do Norte”, afirmou, em tom irónico, dizendo ter antecipado que a resposta dos restantes partidos seria negativa, como veio a acontecer.
No entanto, Rio considerou que ainda que “os outros” partidos tenham essa atitude, o PSD deve continuar a insistir e “captar a sociedade” para a importância desses entendimentos
“Se continuarmos com a lógica da massa associativa que estão uns contra os outros como num jogo de futebol, isso não é solução para nada”, realçou.
O líder do PSD recuou aos tempos académicos para lembrar que já os seus professores diziam que tinha mais aptidão para as questões de ordem estrutural do que para as conjunturais, do dia-a-dia, algo que diz não ter mudado.
“Apontamos para a lua, como dizem os chineses, e em vez de olharmos para a lua estão todo a olhar para o dedo”, lamentou.
No plano económico, Rio recorreu a uma comparação das taxas de crescimento económico e da dívida pública antes e depois de Portugal ter aderido ao euro: um crescimento em termos reais de 70% nos primeiros 14 anos de adesão europeia e de zero desde que entrou no euro, com uma dívida pública antes na ordem dos 51% e que evoluiu depois até aos 130%.
“Isto derrota as teses de que o défice público e a despesa pública eles próprios são indutores de crescimento – isso era assim quando as economias estavam fechadas, quando estão abertas deixa de ser assim”, defendeu Rui Rio, no dia em que a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite defendeu uma maior flexibilização do défice e considerou “uma loucura” perseguir o 'superavit' orçamental.
O presidente do PSD, que tem defendido que o 'superavit' das contas públicas deve ser o objetivo em períodos de crescimento económico folgado, apontou hoje no American Club of Lisbon outra meta: alcançar o 'superavit' nas contas externas, com o país a exportar mais do que aquilo que importa.
“Temos de ter as nossas contas superavitárias, algo que mudou no tempo da ‘troika’ e que nos últimos tempos se está a degradar. Temos de ser capazes de conciliar isto com um crescimento económico baseado nas exportações e no investimento”, apontou.
Outra das prioridades do PSD no plano económico, defendeu, será reduzir a carga fiscal, considerando que em Portugal esta “já passou a linha vermelha”, mas reconhecendo que não será fácil.
“Depois de passar a linha vermelha, alguém que queira ser sério sabe que não é com um estalar de dedos que se reduz para o patamar que se quer”, avisou.
Rio pediu ainda aos portugueses que “não acreditem” se o PS prometer nas eleições de outubro “melhores empregos e melhores salários”, a não ser “que saia um qualquer Euromilhões ao país”, dizendo que os socialistas nada fizeram para que estes sejam possíveis.
“Só podemos dar aquilo que é compatível dar-se, não só com o presente, mas com o presente e com o futuro. Esta governação dá aquilo que é compatível dar no presente, outra governação do PS deu o que tinha e o que não tinha, estes dão o que têm, mas dão tudo o que têm”, referiu.
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