A revelação é feita pelo jornal Público, que detalha a relação de amizade entre Roman Abramovich e o rabino Alexander Boroda, líder da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia (FCJR), a organização que ratificou as origens sefarditas do oligarca russo.

Boroda justificou a certificação por escrito, dizendo que esta se justifica com base "no meu conhecimento de testemunhos de Roman Abramovich e de uma entrevista pessoal que realizei”. “Confirmo que Roman Abramovich preserva os rituais sefarditas, estilo de vida, tradições e costumes alimentares”, defende no texto, garantindo que o multimilionário é “descendente de judeus sefarditas” e “preserva o sentimento de ligação a Portugal”. Além disso, é “membro da comunidade sefardita” e “é descendente de portugueses”, ou seja, por tudo isso, “é um judeu sefardita português”.

Em causa, porém, está o facto de Abramovich não só ser membro da FCJR, como faz parte do conselho de administração e, por isso, tem um papel na gestão financeira do órgão que certificou as suas origens sefarditas. Este documento, de resto, foi essencial para permitir ao oligarca obter a nacionalidade portuguesa.

De acordo com o Público, Abramovich tem-se pautado por numerosas e avultadas doações a diversas comunidades judaicas espalhadas por toda a Rússia, que integravam ou passaram a integrar a FCJR. A sua generosidade foi recompensada numa sessão pública da organização em abril de 2018. Além das instituições russas, o oligarca terá doado perto de 500 milhões de euros a várias instituições judaicas espalhadas pelo mundo. Além de um especial foco na Rússia e em Israel, também terão sido recipientes organizações dos EUA, do Reino Unido, da Lituânia e de Portugal.

A obtenção da nacionalidade portuguesa por Roman Abramovich, divulgada a dezembro de 2021 pelo Público, causou ondas de choque e veio a resultar na abertura de dois inquéritos: um pelo Ministério Público, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), e outro pelo próprio IRN, que, entretanto, já assumiu que o deu origem um processo disciplinar, mas sem revelar o número de funcionários envolvidos.

A investigação no âmbito do processo de naturalização de Abramovich, que levou à detenção na quinta-feira do líder religioso da Comunidade Judaica do Porto (CJP), o rabino Daniel Litvak, implicou a realização de buscas e envolve suspeitas de vários crimes, nomeadamente tráfico de influências, corrupção ativa, falsificação de documento, branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e associação criminosa, indicaram a Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público (MP) num comunicado conjunto.

Segundo a direção da CIP/CJP, um dos seus membros foi também indiciado dos crimes de tráfico de influência, fraude fiscal, branqueamento e falsificação de documentos.

Em causa estarão alegadas irregularidades cometidas em processos de atribuição da nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas, que se encontram em investigação. Os judeus sefarditas são originários da Península Ibérica expulsos de Portugal no século XVI.

Entre 1 de março de 2015 e 31 de dezembro de 2021 foram aprovados 56.685 processos de naturalização para descendentes de judeus sefarditas num total de 137.087 pedidos que deram entrada nos serviços do Instituto de Registos e Notariado (IRN).

De acordo com dados enviados em fevereiro à Lusa pelo Ministério da Justiça, apenas 300 processos foram reprovados durante este período, restando, assim, segundo os dados registados no final do último ano, 80.102 pedidos pendentes.