Na segunda sessão do julgamento, no Tribunal de Loures, Rosa Grilo, que está a ser julgada pelo homicídio do marido, Luís Grilo, em coautoria com o arguido António Joaquim, disse que só soube desses quatro seguros quando foi interrogada no Tribunal de Vila Franca de Xira.
A acusação do Ministério Público (MP) sustenta que Luís Grilo foi morto para que os arguidos pudessem assumir a relação amorosa e beneficiassem dos seus bens: 500.000 euros em indemnizações de vários seguros, outros montantes em depósitos bancárias e a habitação.
Na semana passada, Rosa Grilo reiterou que o marido foi morto devido a negócios com diamantes na casa do casal por “três indivíduos angolanos” que entraram na habitação e começaram de imediato a agredi-la.
Hoje, numa sessão em que a arguida chorou quando questionada sobre o seu filho menor, o procurador do MP confrontou Rosa Grilo com uma troca de mensagens ocorrida ao final dessa manhã, no dia 16 de julho de 2018, quando os três homens alegadamente se encontravam na casa.
As mensagens foram trocadas com uma colaboradora que trabalhava na empresa de informática do casal, tendo a arguida respondido na última mensagem “Ok. Boa. Ahahaha”.
A presidente do coletivo de juízes, Ana Clara Baptista, interveio: “Como é que a senhora me consegue explicar, perante um quadro daqueles, em que estava sequestrada, tem esta presença de espírito para estar a trocar mensagens com esta naturalidade? Quando está a ser ameaçada de morte, o seu marido amarrado, a viver um pesadelo que acaba com o assassinato do seu marido, como é que consegue manter uma conversa social?”, questionou.
A arguida, que naquele dia manteve o telemóvel na sua posse, não conseguiu dar uma resposta objetiva.
“Na altura, naquele dia, não pensei em nada”, respondeu Rosa Grilo, que nesse dia também trocou dezenas de mensagens via telemóvel com o arguido António Joaquim, algumas das quais já depois de o seu marido ter sido morto.
Na sessão anterior, a arguida relatou que no dia do crime, quando saiu de casa no seu carro acompanhada de dois dos três “indivíduos”, se limitou a cumprimentar duas amigas que estavam num supermercado e a levantar 60 euros do multibanco. Hoje, disse não se recordar de também efetuou alguma compra.
O procurador do MP classificou a tarde do dia do crime como o “sequestro dos três estarolas”, lembrando a versão de Rosa Grilo – a arguida afirmou que os suspeitos “se descontrolaram” ao saber que “alguém estava a caminho de casa”, aludindo ao facto de a cunhada ir entregar o filho menor do casal à residência de ambos.
O procurador questionou ainda a razão pela qual os três alegados homens responsáveis pela morte de Luís Grilo saíram com o cadáver pela porta da frente de casa, embrulhado em plásticos e um saco na cabeça, quando na casa há uma garagem.
“Foram eles que fizeram. Não fui eu. São formas absurdas, obrigaram-me a agir de forma absurdas. Se os senhores enrolaram o Luís em plástico, se o transportaram pelo corredor, pelas escadas para a rua, não sei porque é que o fizeram. Honestamente nem sei porque é que o levaram”, respondeu a arguida.
Na primeira sessão de julgamento, Rosa Grilo contou ao tribunal de júri (além dos três juízes, há mais quatro cidadãos) que foi um dos homens que disparou mortalmente sobre o seu marido com a arma que o próprio trazia consigo e não com a arma do arguido António Joaquim, a quem o MP atribui a autoria do disparo.
Hoje, Rosa Grilo acrescentou que este homem chegou a ter as duas armas na mão esquerda e direita, mas que no momento do disparo apenas tinha uma arma na sua mão direita. Disse não saber qual a arma que o homem utilizou: se a dele ou se a de António Joaquim, que tinha sido guardada pela arguida, sem que o arguido soubesse.
Rosa Grilo acrescentou nesta sessão que, antes de ter ido à GNR reportar o desaparecimento do marido, como lhe pediram os “angolanos”, foi procurar o cadáver.
A suspeita foi ainda questionada pela presidente do coletivo de juízes com o facto de “sorrir” perante determinadas perguntas que são repetidas: “Não responde sempre da mesma forma, depois acrescenta alguns aspetos e dá respostas que não são rigorosamente iguais ao que já disse”.
Quanto aos vestígios de sangue encontrados nas paredes do quarto de hóspedes, local onde o MP acredita que os arguidos mataram a vítima, Rosa Grilo referiu que talvez se devesse a “salpicos”, de quando levou para aquela divisória os sacos com as roupas ensanguentadas.
Antes do intervalo para almoço, o MP confrontou a arguida (proibida de contactar com António Joaquim) com uma carta apreendida pelo tribunal, enviada através da correspondência de outra detida para um preso que se encontra na mesma prisão de António Joaquim. Na missiva, Rosa Grilo pede “perdão” ao arguido e diz que tem coisas para apresentar em julgamento.
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