A partir de um vídeo, no qual se vê Ruby Freeman e a filha Shaye Moss, ambas agentes eleitorais, a passar um objeto de uma para a outra durante a recontagem dos votos na eleições americanas de 2020, o ex mayor e ex-procurador de Nova Iorque e também ex-advogado pessoal de Donal Trump, Rudy Giuliani, afirmou que as duas agentes estavam a trocar uma pen de armazenamento de dados "como se fosse uma dose de heroína ou cocaína" para falsificar os resultados. A alegada pen comprovou-se que era, afinal, uma pastilha elástica, mas durante quatro anos a alegação de Giuliani circulou.
As duas agentes processaram-no por isso e a justiça americana tornou agora pública a sua decisão. Os advogados de Ruby Freeman e da filha Wandrea "Shaye" Moss pediram ao tribunal federal de Washington um mínimo de 22 milhões de euros para cada uma e a sentença acabou por elevar o valor total a mais de 135 milhões de euros.
O júri concedeu a cada uma mais de 14 milhões de euros por difamação, 18 milhões de euros por danos morais e 68 milhões de euros por perdas e danos, detalha a imprensa americana.
"Os últimos anos foram devastadores", porque "a chama que Giuliani acendeu com estas mentiras (…) mudou todos os aspetos das nossas vidas, dos nossos lares, da nossa família, do nosso trabalho, da nossa sensação de segurança, da nossa saúde mental", declarou Moss aos jornalistas.
Freeman disse estar grata pelo fato de o júri ter considerado Giuliani "responsável". "Hoje não é o fim do caminho", afirmou. "Ainda temos trabalho a fazer. Rudy Giuliani não foi o único que espalhou mentiras sobre nós, e outros também devem ser responsabilizados", acrescentou.
Giuliani classificou a indemnização por perdas e danos como sendo "absurda" e anunciou que vai apelar da decisão.
"Tenho bastante certeza de que, quando o caso chegar a um tribunal justo, será anulado rapidamente", declarou.
O ex-advogado de Trump redobrou as suas acusações declaradas infundadas contra Freeman, de 64 anos, e Moss, de 39.
"Não tenho qualquer dúvida de que os meus comentários eram sustentáveis à época e de que são hoje", insistiu. "Simplesmente não tive oportunidade de apresentar provas", afirmou, defendendo a sua decisão de não depor em sua defesa por, na sua opinião, considerar que não "ajudaria muito a convencer alguém".
As duas agentes, ambas negras, contaram como as acusações de Giuliani, ecoadas por Donald Trump nas suas redes sociais, resultaram numa chuva de insultos e ameaças pessoais, muitas de caráter racista.
Em agosto, a juíza Beryl Howell declarou-o culpado de difamação e ordenou que reembolsasse os honorários legais.
"Declarações falsas"
Giuliani foi mayor de Nova Iorque de 1994 a 2001 e ganhou o apelido de "o mayor da América" por liderar a cidade durante a comoção causada pelos atentados do 11 de Setembro.
A sua licença para exercer a advocacia foi suspensa em Nova Iorque e em Washington por "declarações falsas e enganosas" proferidas como parte dos esforços para anular os resultados das eleições vencidas pelo democrata Joe Biden.
Giuliani, que presumivelmente atravessa problemas financeiros, também é alvo de outro processo de um escritório de advogados que pede 1,1 milhões de euros por serviços prestados não pagos.
Em agosto, foi acusado criminalmente pelos tribunais da Geórgia, juntamente com Trump e outras 17 pessoas, por tentativa de alterar os resultados das eleições de 2020 no estado que desempenhou um papel chave. Quatro dos acusados já se declararam culpados, livrando-se da prisão em troca de testemunharem no futuro julgamento dos demais.
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