Num almoço/debate do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas, em Lisboa, Rui Rio procurou explicar a sua estratégia desde que assumiu a presidência do PSD, em funções plenas desde meados de fevereiro, salientando que uma das suas primeiras tarefas foi “esbater a crispação”.

“O primeiro passo que foi dado foi procurar esbater a crispação que tem tendência a existir e existia entre partidos e, com essa crispação entre partidos e entre pessoas, não é possível o diálogo no sentido que entendo que é absolutamente vital para o país”, defendeu.

Rui Rio, que foi deputado durante dez anos, considerou que muitas vezes as divergências a que se assiste no parlamento “são empoladas” para se chegar às eleições e dizer aos eleitores que têm de fazer “uma escolha preto no branco”.

“Preto e branco há nos extremos, no meio há o cinzento, cinzento mais escuro, cinzento menos escuro”, contrapôs.

Dizendo que apenas aceitou ser candidato e, depois, líder do PSD aos “60,9” anos em nome de “um objetivo com o nome Portugal”, Rio explicou qual é a sua perspetiva sobre o que é fazer oposição.

“Muita gente, mesmo dentro da política, reduz a oposição a dizer mal do Governo, eu acho que não, reduzir a oposição a isto é muito mau”, afirmou.

Para o presidente do PSD, “não há nenhum partido político em Portugal, nem que tenha maioria absoluta, que consegue fazer algumas reformas, algumas só se conseguirão se o espírito de pôr Portugal em primeiro for de mais do que um partido”.

É neste quadro que, justifica, já assinou dois acordos com o Governo, um sobre o futuro quadro comunitário e outro sobre a descentralização, dizendo preferir “sacrificar manchetes” com críticas ao executivo em nome de melhores políticas para o país.

“Isto não quer dizer de forma nenhuma que o principal partido de oposição não quer ser oposição, quer dizer que naquilo em que é vital o entendimento, temos obrigação do entendimento, naquilo que é vital a Portugal ser oposição, somos oposição”, definiu.

Para Rui Rio, a oposição “deve apontar os erros do governo no sentido de obrigar o Governo a fazer melhor ou, se não fizer melhor, captar a simpatia do eleitorado para tirar este Governo e pôr lá outro”.

“A função da oposição de criticar o que está mal é uma função nobre, os deputados recebem um salário para criticar o que no Governo efetivamente está mal, sem insultos e sem rasteiras”, afirmou.

No entanto, avisou, em primeiro lugar “as eleições não se ganham, as eleições perdem-se” se quem está no poder não estiver a fazer um bom trabalho e, por outro lado, se a oposição apresentar uma alternativa credível.

Foi por isso, explicou, que criou o Conselho Estratégico Nacional (CEN), um órgão que pretende ser uma forma de militância partidária diferente e que está a trabalhar em documentos temáticos que virão a ser parte do programa eleitoral do PSD, alguns já divulgados como o da natalidade ou da reforma da zona euro.

Rui Rio fez questão de fazer uma ressalva sobre o documento do CEN sobre justiça, praticamente concluído, mas que não quer “apresentado na praça pública” para que os outros partidos não se sintam “a reboque” das propostas do PSD.

A este propósito, Rio salientou que é mais frequente um primeiro-ministro estar disponível para reformas “profundas e complexas” como a da justiça.

“O país ter um líder da oposição disponível para isso, eu acho que é de aproveitar”, gracejou.

Rio começou a sua intervenção perante os empresários explicado as alterações que o PSD já introduziu nos seus regulamentos internos, recusando que tal possa ser visto como “uma questão menor”.

“Um dos problemas do regime democrático é funcionamento ou o não funcionamento dos partidos políticos, não me podia desculpar a mim próprio se, chegado a este cargo, não fizesse nada para alterar a situação”, referiu, acrescentando que “notícias como as dos jornais de há 15 dias” mostram a importância deste processo, numa referência implícita à investigação Operação Tuttifrutti, que envolve o seu próprio partido.