O antigo presidente da Câmara do Porto chegou à liderança do PSD em 2018, na sequência da não recandidatura de Pedro Passos Coelho, e defendeu, do início ao fim da sua liderança, a necessidade de o partido se afirmar como de centro (e não de direita) e de o país fazer reformas estruturais em áreas como a justiça, segurança social, sistema político e descentralização.
Para todas elas, admitiu, seria necessário estabelecer acordos de regime com o PS, mas só no início da sua presidência assinou dois documentos com os socialistas – sobre fundos europeus e descentralização. Esses acordos mereceram-lhe críticas internas de querer ser ‘muleta’ do Partido Socialista, mas acabou a sua presidência a concluir que “o PS não quer reformar nada”.
Ao longo dos quatros anos em que foi líder do PSD, repetiu muitas vezes o discurso contra um “regime enquistado” depois de 46 anos de democracia, mas nunca teve o partido totalmente unido em torno das suas ideias e travou disputas renhidas para se manter no cargo.
Ao contrário do anterior líder, Pedro Passos Coelho, que foi reeleito por três vezes sem opositores, Rui Rio começou por vencer em 2018 Pedro Santana Lopes com 54% dos votos e, menos de um ano depois, – agora presidente eleito -, tinha Luís Montenegro a desafiá-lo para eleições antecipadas.
A disputa entre os dois só aconteceria em 2020 (também Miguel Pinto Luz foi candidato) e Rio venceu com 53% numa inédita segunda volta, diferença que se encurtaria ainda mais em novembro de 2021 quando derrotou Paulo Rangel com 52,4%, já com legislativas antecipadas marcadas, e quando a maioria dos presidentes das estruturas tinham declarado apoio ao eurodeputado.
Se, internamente, Rio derrotou sempre quem o desafiou na liderança e salientou o seu ‘recorde’ nacional de líder da oposição, nas eleições externas o balanço é bem diferente.
Durante o seu primeiro mandato, logo em 2019 disputaram-se três eleições e o PSD teve o pior resultado de sempre em europeias (menos de 22%), um dos piores em legislativas (27,7% e 79 deputados) e apenas vence as eleições regionais da Madeira, mas perde a maioria absoluta que detinha desde o 25 de Abril naquela região, fazendo uma coligação com o CDS-PP para formar Governo.
No segundo mandato, Rio viu o partido regressar ao poder nos Açores, mas sem vencer eleições, graças a uma coligação governativa com o CDS-PP e PPM e a um acordo parlamentar com a Iniciativa Liberal e o Chega, que lhe mereceu críticas internas e que marcaria a sua presidência até ao final.
Nas presidenciais de janeiro de 2021, foi reeleito Marcelo Rebelo de Sousa com mais de 60%, que recebeu nessa eleição o apoio expresso do PSD e não apenas uma recomendação de voto como tinha acontecido cinco anos antes.
Nas autárquicas de setembro do mesmo ano, que Rio elegeu desde 2018 como o desafio mais importante da sua liderança, o PSD ficou em segundo lugar, mas conseguiu inverter os piores resultados de sempre de 2013 e 2017, passando a liderar 114 municípios (mais 16) e aumentar o número total de eleitos.
Nas autárquicas, os sociais-democratas encurtam quase para metade a distância em número de municípios para o PS (passa de 63 para 35) e conquistam câmaras como Lisboa, Coimbra, Funchal e Portalegre, resultados considerados “excelentes” por Rui Rio e que colocariam o partido em “melhores condições” de vencer as legislativas”, que em setembro só eram esperadas para 2023.
No espaço de um mês, todo o cenário político muda: o Orçamento do Estado é ‘chumbado’ e o Presidente da República convoca eleições antecipadas para 30 de janeiro.
Rio ainda tenta convencer o partido a adiar a marcação de eleições internas para depois das legislativas, mas o Conselho Nacional recusa e Paulo Rangel avança mesmo com uma candidatura alternativa.
A campanha interna foi dominada pelos cenários de governabilidade e por quem seria o melhor candidato a primeiro-ministro, com sondagens publicadas na última semana de campanha interna a apontarem que Rio teria um melhor resultado do que o eurodeputado contra António Costa.
A campanha para as legislativas, antecedida por muitos debates, acabou por ficar marcada pelas sondagens - que, a dada altura, indicavam um empate técnico entre PS e PSD -, com a desilusão a chegar a 30 de janeiro: um resultado semelhante ao de 2019 e com ainda menos dois deputados (depois da repetição da votação no círculo da emigração).
Logo nessa noite, Rio questionou qual a utilidade para o partido em manter-se como líder do PSD e, pouco dias depois, anunciaria a intenção de deixar o cargo, mas levará cinco meses até à saída ficar consumada, no Congresso do Coliseu do Porto, entre 01 e 03 de julho.
Nascido no Porto a 06 de agosto de 1957, Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acabando por deixar o cargo em 1997 na sequência de divergências relacionadas com o processo de refiliação.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Rui Rio manteve um percurso profissional como economista e chegou pela primeira vez à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos e regressou ao parlamento como deputado em outubro de 2019 - apesar de ter confessado que a função não o entusiasmava - e até assumiu a liderança da bancada durante alguns meses.
Casado e com uma filha, tem como ‘hobbies’ as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude e que retomou em algumas campanhas.
Na última, o país ficou a conhecer o seu animal de estimação: o gato Zé Albino, que se tornou famoso pelas partilhas no Twitter e entrou mesmo no discurso de vários líderes partidários.
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