Rui Rio, que já é o líder do PSD com mais tempo de oposição, apresenta hoje a recandidatura ao cargo que ocupa desde janeiro de 2018, num mandato que, sem crises políticas, se estenderia até janeiro de 2024.

Cavaco Silva foi o líder que mais tempo esteve à frente do PSD, durante quase dez anos, seguido de Pedro Passos Coelho, que completou perto de oito como presidente dos sociais-democratas, e com o terceiro lugar a caber, até agora, a Durão Barroso, que esteve 4,5 anos como presidente social-democrata.

Eleito pela primeira vez em janeiro de 2018 com 54% dos votos contra Santana Lopes e reeleito em 2020 com 53% numa inédita segunda volta contra Luís Montenegro, Rio, que já se assumiu como um “corredor de fundo” na política, vai tentar aos 64 anos uma terceira vitória interna, desta vez contra o eurodeputado Paulo Rangel.

Rio esperou mais de três semanas desde as autárquicas de 26 de setembro para anunciar a sua decisão - via comunicado do ‘vice’ do partido e diretor de campanha Salvador Malheiro -, e ainda passou por uma derrota no Conselho Nacional, que rejeitou a sua proposta de adiar a marcação do calendário interno até se esclarecer se o Orçamento do Estado será ou não aprovado.

Depois de no seu primeiro mandato o PSD apenas ter vencido uma das eleições que disputou (as regionais da Madeira), em outubro de 2020 Rio viu o partido regressar ao poder nos Açores, sem vencer eleições, graças a um acordo parlamentar com o CDS-PP e PPM e ao apoio dos novos partidos Iniciativa Liberal e Chega, o que lhe mereceu críticas internas.

Nas presidenciais de janeiro de 2021, foi reeleito Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu desta vez o apoio expresso do PSD e não apenas uma recomendação de voto, como tinha acontecido cinco anos antes.

Nas autárquicas, que Rio elegeu desde 2018 como o desafio mais importante da sua liderança, o PSD ficou em segundo lugar, mas conseguiu inverter os piores resultados de sempre de 2013 e 2017, encurtar quase para metade a distância em número de municípios para o PS e conquistar câmaras como Lisboa, Coimbra, Funchal e Portalegre, resultados considerados “excelentes” pelo próprio.

Se o primeiro mandato foi muito centrado na defesa de consensos alargados (e na assinatura de dois acordos com o Governo em matéria de fundos europeus e descentralização), o segundo quase coincidiu com o início da pandemia, com Rio a assumir uma postura de colaboração com o executivo, que passou até pela aprovação do Orçamento Suplementar destinado a cobrir as despesas extras do Estado.

Nos últimos tempos, o presidente do PSD já admitiu, por várias vezes, que “o PS não quer mudar nada” e avançou com a apresentação de projetos de revisão da Constituição e da lei eleitoral, sem garantias de acordos, e tem manifestado discordâncias profundas em dossiês como a TAP ou defendendo um maior peso na distribuição dos fundos europeus para as empresas.

Ao longo deste mandato, com muito menos tensão interna que o primeiro, Rio foi ouvindo o Presidente da República pedir uma oposição forte e, mais recentemente, o antigo chefe de Estado Cavaco Silva classificar a oposição como “débil e sem rumo”.

Internamente, as críticas foram sendo pontuais e chegaram, por exemplo, por ter proposto e aprovado com o PS a redução dos debates quinzenais com o primeiro-ministro no parlamento - substituídos por debates mensais com o Governo - e por ter dado liberdade de voto numa iniciativa de referendo sobre a eutanásia (ele próprio é a favor da despenalização), dois pontos já destacados pela negativa pelo adversário Paulo Rangel.

Nascido no Porto a 06 de agosto de 1957, Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.

Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acabando por deixar o cargo em 1997 na sequência de divergências relacionadas com o processo de refiliação.

O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.

Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto – tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 –, e manteve um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos.

Depois das últimas legislativas, regressou ao parlamento como deputado em outubro de 2019 - apesar de ter confessado que a função não o entusiasmava - e até assumiu a liderança da bancada durante alguns meses.

Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na juventude, destacou-se na sua primeira passagem enquanto deputado por se opor ao chamado ‘totonegócio’, que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e por ser então um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.

Casado e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, marcada na infância pela morte do irmão. Agnóstico, tem como ‘hobbies’ as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.