Rui Rio encerrou hoje a III convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), iniciativa na qual participou pela primeira vez e em que já discursaram os presidentes da Iniciativa Liberal, do CDS-PP e do Chega.
“Ainda não tinha entrado na sala, olhei para o ecrã e sosseguei porque não dizia ali congresso das direitas. Se dissesse eu não poderia entrar, teria provavelmente sido barrado logo à entrada”, afirmou.
O presidente do PSD defendeu que, se os conceitos de direita e esquerda não são hoje tão rígidos como no passado, “ainda há algumas coisas que as distinguem”.
“O PSD não é um partido de direita”, afirmou, numa declaração que recebeu tímidos aplausos da plateia.
Rio recordou que, na sua génese, o partido nasceu até como de centro-esquerda.
“Agora não vai a caminho do socialismo, mas é um partido de centro, tem pessoas mais à direita, o que não tem problema nenhum, mas não é um partido de direita”, afirmou.
O presidente do PSD entrou no auditório do Centro de Congressos de Lisboa quando ainda decorria o último painel e sentou-se na primeira fila ao lado - com uma cadeira de intervalo, devido às restrições da covid-19 - do seu antecessor, Pedro Passos Coelho, que tem estado a assistir aos trabalhos desde terça-feira e se levantou para o cumprimentar.
No início do seu discurso, Rio fez questão de fazer “um cumprimento especial” ao anterior primeiro-ministro e líder do PSD.
Rio lamenta que Costa não “aproveite oportunidade” de ter líder da oposição que quer reformas
Num discurso de quase 45 minutos, no encerramento da III Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), Rio reafirmou todas as grandes linhas que marcam a sua liderança do PSD desde há três anos e meio, como a necessidade de “acordos partidários alargados” em áreas como a segurança social, a justiça ou a descentralização, bem como o diagnóstico de que “o regime está enquistado”.
“O regime não vai acabar bem se não se regenerar e sem entendimentos entre os partidos e a sociedade ele não se reforma”, defendeu o presidente do PSD.
Rio apontou duas razões para este “círculo vicioso”: por um lado, a cultura dominante que não privilegia o “diálogo democrático”.
“Hoje ser-se oposição é dizer não. Uma oposição forte nunca coopera, só diz mal, está sempre contra, se não faz assim é frágil, é débil, tem de se tirar e pôr alguém que fale mais ainda contra quem está no poder”, apontou.
Por outro lado, mesmo que esta cultura seja ultrapassada, Rio considerou que a necessidade de entendimentos encontra outro obstáculo “ainda pior”.
“O Partido Socialista não quer reformar nada, o PS é a corporização do sistema”, acusou, numa frase que gerou primeiro algumas exclamações na sala e, depois, aplausos.
Para Rio, “o PS não quer contrariar o discurso politicamente correto porque esse é a narrativa oficial do sistema que o PS criou, é a arma dos interesses instalados e do imobilismo”.
Apesar do diagnóstico, o líder do PSD reiterou que continua disponível para esses entendimentos alargados em nome do país: “A luta não é virar as costas, mas tudo fazer para que as coisas mudem e para que quem não que, seja penalizado”.
“Numa situação de normalidade, o primeiro-ministro quer andar para a frente e reformar, é a oposição que normalmente não está disponível. Consciente disso, tenho uma atitude diferente, mas mesmo assim, o PS e o secretário-geral do PS não aproveita a oportunidade para rasgar novos horizontes ao regime, ao país”, afirmou.
E, ainda que António Costa “não queira”, como se ouviu na plateia, Rio defende que “é obrigação do PSD tudo fazer para que queira”.
O presidente do PSD terminou o seu discurso com o que disse ser “uma boa notícia para todos”.
“Tomei ontem a vacina da Astra Zeneca e estou aqui perfeito, podem todos tomar”, disse, em tom bem-disposto.
Rui Rio e Pedro Passos Coelho deixaram o Centro de Congressos de Lisboa lado a lado, a conversar, e quando os jornalistas questionaram o anterior líder do PSD se concordava com o diagnóstico do atual, o ex-primeiro-ministro disse apenas: “Eu hoje não sou aqui ator”.
Na sua longa intervenção, Rio quis deixar na convenção do MEL as linhas gerais do caminho que entende que Portugal deve seguir e voltou a apontar o “brutal endividamento externo e endividamento público” como os dois principais estrangulamentos económicos do país, a que juntou a má qualidade da despesa pública.
“Temos de fazer diferente, o PS não o faz”, criticou, contabilizando que nos últimos 20 anos os socialistas governaram 14, o PSD quatro e “a troika três”.
Rio reconheceu ao PS o mérito de “travar o défice”, mas considerou que o fez “enganando o PCP e o BE à custa das cativações”.
“O PCP fica todo contente, até gosta, o BE estrebucha um bocadinho, como aconteceu na convenção”, apontou, considerando que sem um crescimento económico forte “é tudo vender banha da cobra”.
Ao nível dos estrangulamentos políticos, Rio retomou o discurso que faz há vários anos sobre o “enquistamento do regime”, que se traduz no “enfraquecimento do regime político e na incapacidade do sistema judicial”.
“O mais grave para mim é que o enfraquecimento do poder político significa menos democracia”, alertou.
Sobre a justiça, que considera “estar pior do que há 30 anos”, Rio voltou a rejeitar o que chama de “julgamentos populares ou de tabacaria” e deixou um ‘recado’ a Rui Moreira.
“O presidente da Câmara Municipal do Porto veio dizer que me contradigo porque emiti uma opinião, não sobre o processo. Mas o que critico é na fase de investigação, do inquérito, não a partir do momento em que a acusação está feita e há uma decisão instrutória que é pública”, justificou.
Rio defendeu que um dos principais objetivos da regeneração do regime é “prestigiar a política”.
“Quando a sociedade começa a tomar a ideia - mentira ou verdade - que são todos aldrabões, mentirosos ou corruptos, isto vai levar a um caminho: é que qualquer dia praticamente é mesmo assim porque cada vez é mais difícil conseguir gente séria para uma atividade onde a fama é esta. Não podemos confundir a árvore com a floresta”, pediu, responsabilizando também a comunicação social neste ponto.
(Artigo atualizado às 22:14)
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