“Sabemos que os nossos F-16 têm 30 anos, sabemos que a sua substituição, se houvesse alguma decisão, demoraria dez anos a chegar. Isso significa que os F-16 teriam de voar mais de 40 anos”, segundo o chefe militar, em declarações à Lusa e TVI/CNN, à margem de uma visita do ministro da Defesa, Nuno Melo, aos destacamentos da Força Aérea e do Corpo de Fuzileiros da Marinha em missão da NATO na Lituânia.
Para Cartaxo Alves, a Força Aérea “tem uma grande responsabilidade, que é garantir a soberania e a integridade do espaço aéreo nacional”, mas, para cumprir esta missão, o país precisa decidir quais os meios que precisa para operar.
“As aeronaves estão normalmente pensadas para 30 a 35 anos, dependendo dos esforços que vão tendo ao longo da vida, e que vai ditando a continuidade em operação”, de acordo com o general, observando que, no caso dos F-16, estes caças são caracterizados pela letalidade, capacidade de sobrevivência e conectividade, sendo que esta última, apontou, é “importantíssima na guerra moderna”.
Sucede com estes caças norte-americanos que “estes fatores “se vão degradando” e ficam sujeitos a modernizações e ‘upgrades’ sucessivos, “enquanto todos os outros países vão fazendo essa mudança” para os F-35.
“E nós vamos ficando para trás nesse esforço, que é cada vez mais um esforço europeu”, alertou Cartaxo Alves, até tendo em conta que há cada vez menos países que ainda não procederam a essa alteração.
Nesse sentido, o chefe militar disse que a Força Aérea está a trabalhar e a recolher o máximo de informação, “credível e segura”, para que o Governo possa tomar uma decisão fundamentada, “que dependerá sempre das capacidades do país”.
Nesse processo, estão a ser consultadas as forças congéneres que já possuem F-35, bem como o fabricante e a Força Aérea dos Estados Unidos, revelou Cartaxo Alves, para quem não existe alternativa a esta aeronave norte-americana.
“Não há outra opção”, afirmou, recordando que a Força Aérea acompanhou de muito perto o desenvolvimento do projeto do caça europeu, que acabou por ser vítima da situação de instabilidade global e concretamente após a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, precipitando o “aumento da capacidade de quinta geração na Europa”.
A partir do momento em que “o maior fabricante aeronáutico da Europa, a Alemanha, optou definitivamente pela aquisição de oitenta F-35, logo aí o futuro o caça europeu caiu por terra e deixou de haver outra opção”, segundo o chefe do Estado-Maior da Força Aérea.
A este respeito, quando confrontado pelos jornalistas na base de Siauliai, onde estão estacionados quatro F-16 e 87 militares da Força Aérea, o ministro da Defesa prometeu “um diálogo permanente” tendo como prioridade o investimento nas Forças Armadas, “com base na verdade para não falhar”, com as chefias militares, que, à exceção do Exército, o ouviam no instante destas declarações.
“O que eu digo é que seria muito anormal que os maiores responsáveis pelos diferentes ramos não reclamassem o melhor da tecnologia. É isso que é suposto e é suposto também no poder político conseguir adequar as possibilidades orçamentais àquilo que são os desejos das Forças Armadas”, comentou.
Esta foi a primeira visita oficial de Nuno Melo a missões portuguesas no estrangeiro, que incluiu também uma deslocação a Kairiai, na Lituânia, onde se encontra um destacamento de 146 fuzileiros, com a missão de dissuadir ameaças no flanco leste da NATO, através de uma presença militar contínua.
Cartaxo Alves referiu que esta missão tem sido marcada desde 2017 por “laços de cooperação bem fortes” com a Lituânia, fazendo um balanço “muito positivo” do qual “a imagem de Portugal sai reforçada”.
Desde a invasão da Ucrânia, a proximidade da Lituânia conferiu uma nova relevância ao destacamento de F-16 presente no país e suas missões de policiamento aéreo no Mar Báltico, em particular junto do enclave russo de Kalinegrado.
João Gonçalves, comandante do destacamento de F-16, descreveu a atividade como normal, com interceções de aeronaves russas todas as semanas, embora não observe um aumento, acompanhando a escalada de tensão da guerra na Ucrânia.
As aeronaves russas intercetadas são sempre militares, segundo o comandante da Força Aérea, por vezes são caças de escolta a outros aparelhos, noutras trata-se de aviões de transporte.
“Estes fatores acabam por trazer a guerra para mais perto de nós, mas não altera em nada o nosso tipo de missão”, assegurou João Gonçalves, referindo ainda que, sempre que existe um exercício, seja da NATO ou da Rússia, acaba por haver um aumento de atividade nas operações de policiamento no Báltico.
Na generalidade das interceções de aparelhos russos, o comandante do destacamento descreveu que os pilotos fazem um reconhecimento da aeronave, identificam-na, fotografam-na e recolhem todos os elementos disponíveis, por exemplo, se transportam ou não armamento e qual, limitando-se posteriormente a escoltá-la, nunca tendo ocorrido um contacto entre os ‘cockpits’ dos aviões.
“Como é óbvio, se estiverem a efetuar uma escolta a uma aeronave que transporte alguma entidade, não vão querer que nós cheguemos tão perto, portanto nós também, do nosso lado, o que fazemos é manter o nosso profissionalismo”, explicou, não havendo registo de nenhuma provocação que tenha causado problemas à segurança dos aviões no ar.
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