Segundo o vice-presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, Vasco Melo, a Baixa tem assistido ao encerramento de muitas lojas “quer por negociação entre as empresas e os senhorios, quer por denúncia dos senhorios para a realização de obras profundas, quer por fim do período transitório do NRAU [Novo Regime de Arrendamento Urbano]”.

Em declarações à Lusa, Vasco Melo lamentou que muitos estabelecimentos comerciais estejam a ser substituídos por lojas de ‘souvenirs’ - e não percebe como é que “têm rentabilidade para pagar rendas elevadas” - ou por hotéis, hostels e alojamentos locais.

O NRAU, sublinhou, pretendia nivelar o valor das rendas novas e antigas, mas o que aconteceu foi que “as rendas novas dispararam para preços que hoje qualquer empresa comercial normal que vá por racionalidade económica não consegue pagar”.

O dirigente da Associação de Valorização do Chiado, Victor Silva, acredita que “havia muitos negócios instalados que não geravam negócio e se mantinham pelo não aumento das rendas”, o que “também não era bom para a cidade”. No entanto, considera “que houve algum exagero que importa corrigir”, até porque os comerciantes já se “contam pelos dedos”.

A cidade de Lisboa, apontou, perdeu cerca de 300 mil habitantes nos últimos 30 anos, “enquanto o investimento ia todo para as periferias”.

No entender do responsável, “o caos com o trânsito” e os valores excessivos de estacionamento fazem com que as pessoas “comecem a deixar de ir para o centro histórico” e escolham as grandes superfícies.

“Chega a ser colocada sinalética a indicar o [centro comercial] Colombo na Baixa e nós temos de pedir para retirar”, apontou.

As dificuldades chegam também às coletividades históricas no centro de Lisboa, como é o caso da Academia Recreio Artístico, que está a sofrer com o aumento do valor das rendas, uma “asfixia” que coloca a segunda coletividade mais antiga de Portugal em risco de “ter de fechar portas”.

O presidente, Armando Oliveira, disse à Lusa que a coletividade, na freguesia de Santa Maria Maior, “sofreu e está a sofrer as consequências drásticas de um aumento inusitado de rendas”, com valores que rondavam os 400 euros e que aumentaram para 1.300 euros.

Segundo o representante, hoje é imperativo conter custos, uma vez que os auxílios “são praticamente inexistentes” e que as receitas da Academia Recreio Artístico “não se compadecem com uma renda deste tipo”.

Já o Grupo Desportivo do Castelo e o Grupo Desportivo da Mouraria não têm sofrido com o aumento das rendas uma vez que ocupam espaços camarários, mas mantêm-se de pé com dificuldades associadas à falta de pessoas e de apoios.

O vice-presidente do Grupo Desportivo do Castelo, Carlos Oliveira, referiu que há muitas pessoas “a serem expulsas das casas onde nasceram porque o aumento das rendas foi brutal” e acrescentou, com ironia, que “a cidade já perdeu os seus bairros mais emblemáticos, a tal ponto que esta casa, organizadora desde os anos 30 da marcha do Castelo, está a pensar em propor para o próximo ano que em vez de arcos sejam turistas a arrastar os tróleis”.

“Uma marcha popular são cerca de 70 pessoas. O grupo desportivo está a organizar a marcha deste ano e o Castelo vai sair novamente. Apenas três pessoas moram no bairro. Todos os outros são filhos desta comunidade, mas têm de vir de fora”, acrescentou.

No bairro da Mouraria, a situação é idêntica. A coletividade não tem sofrido com as rendas, por estar instalada num edifício camarário, mas há outras despesas para pagar, nomeadamente água e luz, exigindo assim “esforço e trabalho”, referiu à Lusa a vice-presidente do espaço, Carla Correia, destacando que a associação se mantém de pé por gosto e que quem trabalha no bar não é remunerado.

Muitos habitantes têm sido despejados do bairro e já não há pessoas suficientes para duas marchas populares, como antigamente. Ainda assim, Carla Correia está confiante de que “com muito esforço” a associação continuará erguida.

No que diz respeito a apoios externos, os dirigentes destas associações dizem que a Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa, à qual os associados têm de pagar 75 euros por mês, não presta qualquer apoio.

“Podiam congregar vontades, levar as coisas por diante, não me parece que estejam interessados”, referiu Carlos Oliveira.

A Lusa tentou contactar a associação, o que não foi ainda possível.

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