“Tenho ali um saquinho com umas coisas e em menos de dois minutos estou a modos de seguir”, disse à Lusa o ex-bancário, 60 anos, sentado no jardim em frente à Câmara Municipal das Velas, numa pacata manhã de domingo com pouco movimento nas ruas da vila e em que as missas foram canceladas.

João de Melo faz parte dos cerca de 50% dos habitantes do concelho das Velas que, oito dias após o início da crise sísmica que está a atingir a ilha de São Jorge, permanece nesse concelho, uma vez que cerca de 2.500 já se deslocaram, por precaução, para o concelho vizinho da Calheta, considerado mais seguro, e mesmo para outras ilhas dos Açores, a maioria para o Faial e Pico.

Apesar de se manter na sua casa, mesmo no centro da vila das Velas, João de Melo garante que não hesitará em deslocara-se para a Calheta, onde “mais do que um amigo” já lhe ofereceu casa para ficar durante o tempo necessário.

“Se isso começar a dar sismos de intensidade maior eu tenho sítio onde ficar na Calheta”, adiantou o ex-bancário, que já sentiu “perto de uns 20 sismos” desde que começou a atual crise, em 19 de março.

Sentado num banco vermelho do jardim no Jardim da República, relata que, em 1980, durante o sismo que destruiu a cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, “estava em frente à Igreja da Sé”.

“A gente olhava para o céu e não via nada. Era só terra. Foi uma coisa muito grande”, recorda, considerando que os sismos que agora está a sentir em São Jorge são diferentes, como uma “espécie de pancada”.

“Quando se passa por estas coisas também ficamos mais preparados. Já se sabe com o que se conta e quero estar num sítio que seja seguro”, adianta à Lusa.

Numa manhã de domingo sem chuva, ao contrário do que tem sido recorrente nos últimos dias, a vila das Velas acordou tranquila, com pouco movimento de pessoas e com apenas alguns cafés abertos ao público.

Nem o tradicional movimento à hora da missa se verificou. As missas na Igreja Matriz de Velas foram canceladas neste domingo, conforme confirmou à Lusa o padre António Azevedo.

“Foram desaconselhados ajuntamentos de pessoas” por precaução, explicou o pároco, ao avançar que, também por prevenção, as imagens das igrejas foram removidas dos seus locais habituais.

A procissão que deveria realizar-se na tarde de hoje na freguesia da Urzelina foi também cancelada.

“As pessoas estão um bocado apreensivas, mas já mais tranquilas. Mais dia menos dia as pessoas regressam à suas casas” se a situação se mantiver, disse o padre António Azevedo, dando voz a alguma expectativa sobre os próximos dias que está bem espelhada num aviso na porta de uma loja do centro das Velas: “esperamos reabrir na próxima segunda-feira”.