A campanha #parirsozinhanao foi promovida pela Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APMDGP)e destinou-se a protestar por, devido à pandemia de covid-19, a generalidade dos hospitais públicos ter proibido que as grávidas tenham acompanhamento em qualquer deslocação ou situação, incluindo o marido ou o momento do nascimento do filho.
Hoje, no final da campanha, foram colocados sapatos de mulher, homem e criança, cerca de meia centena, no campo da Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, em frente da Direção-Geral da Saúde (DGS), simbolizando direitos que estão a ser negados sem que a DGS tome uma posição, como dizem os organizadores.
Carla Pita Santos, da APMDGP, explicou à Agência Lusa que o direito de a grávida ter um acompanhante, ou três alternadamente, que estava consagrado desde o ano passado, foi interrompido no setor público devido à pandemia de covi-19.
A situação leva a que, disse, a mulher grávida não possa ter ninguém com ela quando faz qualquer tipo de exame e mesmo quando vai ter o filho, o que faz com que, por exemplo, os pais só possam ver os filhos quando estes vão para casa.
“Na altura entendemos essa situação, mas já houve tempo para os hospitais se adaptarem ao direito das mulheres e não obrigarem estas a terem de se adaptar aos hospitais. E não entendemos também o silêncio da DGS sobre a matéria”, disse.
Com esta situação, acrescentou, está a haver um “aproveitamento” dos hospitais privados, que permitem acompanhantes, ainda que exigindo testes à covid-19, também pagos, de dois em dois dias.
“Esta é a única alternativa, mas não é bom. Os parques de estacionamento dos hospitais públicos estão cheios de pais que não podem ver os filhos. Agora já há alguns hospitais que estão a começar a deixar o bebé na transferência do bloco de partos para o quarto”, afirmou.
Carla Pita Santos disse que a associação não entende a situação de separar por causa da covid-19 pessoas que vivem juntas todos os dias e referiu que nem a Organização Mundial de Saúde recomenda tal.
“Não conseguimos identificar nenhum dado que a DGS possa usar para não tomar uma decisão e consideramos que devia ser permitido pelo menos um acompanhante, porque era importante que o pai acompanhasse as consultas, as ecografias, os exames. O afastamento torna mais distante a relação do pai com o filho e os pais acabam por se sentir culpados por não estarem presentes”.
A responsável disse que à associação têm chegado pedidos de ajuda e mensagens de pais angustiados e mães ansiosas, e sublinhou que a DGS pode tomar medidas “e assegurar que os hospitais não atropelem as leis”.
Ainda assim, revelou, a DGS informou a associação que em breve iria emitir um parecer sobre o acompanhamento de grávidas.
Mas nas contas da APMDGP em seis meses de pandemia 42.660 famílias passaram pela ansiedade de se calhar não poderem viver juntas o nascimento de um filho.
Para que tal não se prolongue, em frente do edifício onde funciona a DGS, estiveram ao longo do dia os sapatos de protesto, ao lado de um cartaz da associação com a frase “Por partos dignos e respeitados”.
Ao fim da tarde, os sapatos que os respetivos donos não recuperaram foram oferecidos para uma instituição.
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