Mais de 45 cientistas, entre os quais o português Agostinho Antunes, descodificaram o genoma dos pangolins malaio e chinês, e revelaram a existência de seis novas espécies destes mamíferos de escamas. A investigação, que envolveu cientistas de 12 países, reuniu três pesquisas que foram agora publicados nas revistas científicas Genome Research, Scientific Reports e Molecular Ecology.
Em declarações à agência Lusa, o geneticista Agostinho Antunes, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, explicou alguns dos principais avanços alcançados com esta investigação. “Uma das descobertas que foi bastante interessante na sequenciação do genoma do pangolim malaio e do pangolim chinês é que eles têm uma deficiência num gene imunitário (IFNE)”, expresso exclusivamente em células epiteliais e importante na imunidade cutânea e mucosa, que pode estar na origem da importância do desenvolvimento das escamas.
Segundo o professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as escamas poderão ter sido desenvolvidas para “proteger estas espécies de lesões e stress”, e reduzir a sua vulnerabilidade à infeção. “Esta situação pode ser particularmente interessante porque faz com que estas espécies de pangolins possam funcionar como espécies modelo para estudos futuros de insuficiência imunitária e com relevância para a saúde humana”, realçou.
Por outro lado, a investigação revelou a existência possível de “seis linhagens crípticas, sugerindo seis espécies distintas” dentro do pangolim comum africano, que podem ser de grande relevância em termos de preservação destas espécies.
“Os pangolins são espécies muito ameaçadas, principalmente na Ásia, devido a um tráfico muito grande que existe na China, porque a sua carne é muito apreciada”, podendo um quilo da sua carne custar “várias centenas de dólares”, disse Agostinho Antunes.
Além disso, as suas escamas são usadas na Medicina tradicional como afrodisíaco e outras aplicações. Por estas razões, estas espécies “têm sido dizimadas” e “altamente traficadas”. Agostinho Antunes também está a investigar o tráfico de animais selvagens, porque, muitas vezes, “são também um vetor de doenças para as populações humanas”. “Várias doenças infecciosas como o VIH/sida e o ébola tiveram a sua origem no tráfico de espécies selvagens e portanto tenho tentado acompanhar isso”, contou.
Agostinho Antunes, que iniciou o estudo genético de pangolins em 2003, com uma bolsa da National Geographic Society, reconheceu que “não é fácil trabalhar com estas espécies”, das quais pouco se conhece.
“Os pangolins existem no Velho Mundo, em África e na Ásia, e são muito incomuns, porque têm o corpo revestido de escamas e parecem mais um réptil do que um mamífero”, explicou. Embora a morfologia do pangolim tenha alguma parecença com outros papa-formigas da América do Sul, como o tamanduá e o tatu, essa semelhança resulta apenas de evolução convergente para um mesmo tipo de alimento (térmites e formigas).
Estes animais, apesar de serem “muito diferentes dos carnívoros para a maioria das pessoas”, partilham um ancestral comum de cerca de 70 milhões de anos com os carnívoros.
Cientificamente, os pangolins surpreendem também por compreenderem a única ordem de mamíferos placentários ainda sem um mapa inteiro do genoma conhecido.
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