“Há perdas que não são muito explicáveis. Há municípios que têm tido imensa atenção a esse problema e que têm tido grandes progressos, mas, em outros, as perdas são superiores a 50%. O que é uma situação de certo modo incompreensível no contexto atual”, afirmou aos jornalistas Filipe Duarte Santos.

O especialista, que é também o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), participou hoje, em Vila Real, no Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas, que se prolonga até quarta-feira e é organizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

As projeções, segundo o investigador, apontam para “uma diminuição da precipitação anual” o que, na sua opinião, é um dos aspetos “mais graves” das alterações climáticas.

As projeções falam ainda em “eventos extremos mais frequentes como ondas de calor e precipitações intensas em intervalos de tempo curtos e a subida do nível médio que mar”.

O ano 2017 e o início de 2018 ficam marcados pela seca, devido aos baixos índices de precipitação, situação que, sublinhou o especialista, não se sabe quando vai terminar.

“Pode ser que chova abundantemente nos próximos meses, mas não temos essa capacidade de prever e aquilo que podemos esperar é que as pessoas sejam conscientes da situação em que estamos, que usem a água com a maior parcimónia possível, ou seja, que poupem o mais possível, e que haja menos desperdício de água, sobretudo nos sistemas de distribuição de água que as câmaras fazem no país”, salientou.

Para mitigar o problema da seca, o especialista disse que é preciso ainda uma “maior coordenação entre Espanha e Portugal no que respeita aos recursos hídricos”.

“Depois temos que ver em que medida a agricultura que estamos a fazer é compatível com a precipitação, temos de nos adaptar a um clima diferente, a um clima que é não só mais quente mas também mais seco”, salientou.

À seca juntou-se ainda o problema dos fogos florestais em Portugal, que tiveram consequências dramáticas em 2017, com 110 vítimas mortais.

“Os incêndios têm outras causas para além das alterações climáticas, mas as alterações climáticas potenciam. Sobretudo porque, em 2017, os maiores incêndios foram fora da época de verão, correram no fim da primavera e princípio do outono”, salientou.

Filipe Duarte Santos lembrou que há, no mundo, sítios que estão numa situação pior, como seja a Cidade do Cabo, na África do Sul. As autoridades sul-africanas apontam o “Dia Zero” para 04 de junho de 2018, dia em que as torneiras podem ficar secas.

As notícias para o futuro não são positivas e, para o investigador, o problema poderá ser mitigado com a “emissão de menos gases com efeito de estufa para a atmosfera”, ou seja, “com a redução da dependência dos combustíveis fósseis”.

Filipe Duarte Santos ressalvou que este é um objetivo que “a Europa tem tentado fazer, com “bastante sucesso” e “metas ambiciosas”.

“Mas, como se trata de um efeito global, não basta a União Europeia fazer isso, é necessário que o mundo inteiro faça isso e aí é que está o problema. Temos uma enorme dependência nos combustíveis fósseis, cerca de 80% das fontes primárias de energia são combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural e, portanto, é uma transição que é difícil”, salientou.

E continuou: “mas, se não se fizer essa transição o que temos a esperar é que estes eventos extremos, estas secas extremas vão continuar e possivelmente até agravar-se”.

Na sua opinião, a posição dos Estados Unidos da América, que anunciou querer sair do acordo do Paris, “é deplorável”.

“É de facto uma política que apenas considera a adaptação às alterações climáticas e não a mitigação, ou seja, a redução das emissões e é de um enorme egoísmo em relação a todo o mundo”, frisou.

O Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas prolonga-se por três dias, na UTAD, e quer acabar com “mitos e tabus”.

A organização envolve uma equipa multidisciplinar da academia transmontana, que integra estudantes e professores de Biologia, Biologia e Geologia, Genética e Biotecnologia, Arquitetura Paisagista e Engenharia do Ambiente, em colaboração com a Ordem dos Biólogos.

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