Em declarações aos jornalistas, durante uma visita a uma exploração agrícola no concelho de Castro Verde, no distrito de Beja, no Alentejo, Assunção Cristas demonstrou a "grande preocupação" do CDS-PP com o problema da seca, que, disse, "parece que não está a ter a devida atenção da parte do Governo".
Trata-se de "um tema estrutural para o país, que tem a ver com as alterações climáticas, com um clima que é progressivamente mais quente, mais seco, e que precisa de uma ação consistente do Governo", nomeadamente no "apoio imediato às situações de escassez de água, que afetam, em primeiro lugar, a agricultura, mas também o abastecimento às populações".
Depois, é preciso "perceber que isto não vai lá apenas com palavras", frisou, referindo que "há planos no país aprovados para o uso eficiente da água, de adaptação às alterações climáticas, é preciso acioná-los e é preciso por dinheiro nesses planos".
"Há muitos meses que andamos a falar das questões da seca, das questões que já não são de conjuntura. Hoje estão a cair umas pinguitas, mas que não nos resolvem os problemas de fundo da seca no país", disse a líder do CDS-PP, acusando o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, de fazer "alguns anúncios", mas "depois vai-se ver e nada é novo e chega sempre tarde aos problemas e às soluções".
Assunção Cristas, que foi ministra da Agricultura no anterior Governo de coligação PSD/CDS-PP, disse que "ouviu" Capoulas Santos "anunciar medidas de centenas de milhões de euros para os agricultores por causa da seca", mas, "no final, era apenas uma antecipação do que aconteceu tantas vezes nos anos anteriores e que nada de extraordinário e excecional teve".
Questionada pelos jornalistas sobre o que o Governo deveria ter feito e não fez para combater o problema da seca, Assunção Cristas respondeu que deveria ter criado, "rapidamente", um fundo para as situações de seca, "acionado um conjunto grande de medidas, que já foram acionadas no passado para apoiar os agricultores.
"E, sobretudo, deveria ter em pleno funcionamento os planos que existem e precisam de ser acionados no que diz respeito, por exemplo, ao uso da água, agora no imediato, e à promoção e à sensibilização para um uso eficiente da água", continuou.
Portanto, "falta uma visão não só de tratar daquilo que é urgente, que está em falha, mas também daquilo que é estrutural", afirmou, frisando que o CDS-PP está "muito preocupado", porque "entende que as alterações climáticas e a secura do clima são questões que afetam estruturalmente o país e o Governo não está a dar atenção a esta matéria".
Por outro lado, defendeu, "temos de pensar estruturalmente nas questões dos próximos anos, das próximas décadas, a começar pelos próximos fundos comunitários e é por isso que o CDS-PP já apresentou no parlamento um projeto de resolução onde fala, precisamente, das questões da água, da sustentabilidade, do clima, como estruturantes".
"Temos de discutir no país como é que vamos financiar charcas, encontrar espaços para armazenamento de água, na forma de barragens ou de que outra forma, e não é de excluir que tenhamos de começar a discutir sobre a dessalinização", disse, finalizando: "São questões para as próximas décadas e vejo o Governo completamente adormecido em relação a estes temas".
O dono da exploração hoje visitada por Assunção Cristas, o agricultor Ernesto Fialho, que tem cerca de 800 cabeças de bovinos e 300 de ovinos e produz cereais para alimentar o gado, disse aos jornalistas que ainda não está a ser muito afetado e não é dos mais afetados pela seca.
"Graças a Deus tenho as coisas organizadas [ao nível de palha para alimentar o gado] e todos os anos jogo com reservas para dois anos", já que, "tenho um medo grande, porque a minha vida está toda dependente da agricultura", contou.
No entanto, frisou,"este ano, as minhas reservas já estão afetadas por causa de acudir a muitos amigos, a quem não consigo dizer que não e que estão numa situação tremenda".
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