“Sendo muito cuidadoso naquilo que vou dizer, este ano não vai faltar água na torneira dos portugueses para consumo humano. Obviamente que nunca digo isto de forma despreocupada porque - insisto - temos de poupar água”, disse João Matos Fernandes no parlamento, na comissão do Ambiente.
O ministro destacou que a probabilidade de anos de seca virem a acontecer nos anos mais próximos é crescente e que “só há uma medida de longo prazo contra a seca, que é gastar menos água” e ser “mais eficiente no uso da água”.
No caso da água para agricultura, “os casos mais agudos” conhecidos neste momento “estão sobretudo na Bacia do Sado”.
Na barragem de Pego do Altar, em Santa Susana, Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, “já sabemos hoje que, a não ser que chova muito nos próximos dias - e essa hipótese existe sempre -, não vamos conseguir proceder à rega para o arroz a 100% da sua área, mas nuns casos é em 90% e noutros casos é em 85%. E estes valores são valores que já aconteceram em anos, até alguns anos relativamente longínquos”, disse.
O ministro destacou ainda que foi apresentado o plano para reaproveitamento de água de esgoto tratada em ETAR, que poderá ser reintroduzida no sistema para rega de jardins, rega agrícola e lavagem de ruas.
“A nossa meta é chegarmos ao ano de 2025 com 10% dos efluentes tratados já em uso e ao ano de 2030 com 20% dos efluentes tratados já em uso”, afirmou.
Matos Fernandes admitiu ainda ter de se proceder “à ligação entre algumas albufeiras de maneira a garantir que nos sítios onde chove menos a água lá consegue chegar”.
“Mas, repito, isto é sobretudo por razões agrícolas, não é para consumo humano”, reiterou, salientando que há sempre casos, sobretudo em pequenos aglomerados populacionais perto da raia, que concentram muitos imigrantes no período do verão onde pode faltar a água.
“Para esses [casos], os camiões cisternas estão contratados e, assim que houver alguma limitação, eles poderão levar água aos reservatórios dessas aldeias”, assegurou.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Portugal continental continuava em março em seca meteorológica, tendo-se registado um aumento nas classes severa e extrema em consequência dos baixos valores de precipitação.
Em entrevista à agência Lusa, Vanda Pires, da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), adiantou que em março (até dia 28) verificou-se um aumento da área em seca severa, situando-se nos 37,5%, quando em fevereiro era 4,8%.
“Em fevereiro não existia seca extrema, mas em março, apesar de baixo, registou-se um valor de 0,5%. Já começa a aparecer seca extrema no Algarve, entre Faro e Vila Real de Santo António”, disse.
De acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) do IPMA, em março 45,1% do território estava em seca moderada e 16,8% na classe de seca fraca.
O IPMA classifica em nove classes o índice meteorológico de seca, que varia entre “chuva extrema” e “seca extrema”.
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