A agência Lusa esteve hoje no Vale das Almas, onde se realiza, entre hoje e domingo, a 37.ª Concentração de Motos de Faro, e falou com motociclistas que garantiram nem ter pensado na possibilidade de não estar em Faro para participar em quatro dias de convívio, após a detenção de mais de 50 pessoas ligadas ao grupo Hells Angels e de receios de ajustes de contas no recinto entre grupos rivais.
O presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), Manuel Marinheiro, disse à Lusa estar uma vez mais em Faro porque é motociclista, mas também porque, “em termos institucionais”, tenta sempre “participar em todas as atividades de motociclismo”, que de competição, quer de mototurismo, como é o caso da concentração em Faro.
“A concentração de Faro é sempre um momento alto do mototurismo nacional, pela sua dimensão e longevidade, vamos na 37.ª edição, e principalmente pelo ambiente que o Motoclube de Faro e os seus colaboradores, amigos e apoiantes conseguem criar nesta concentração todos os anos. E a expectativa para esta também é de um excelente ambiente para todos os motociclistas”, afirmou Manuel Marinheiro.
Questionado se veio este ano a Faro com a mesma tranquilidade de outros anos, o presidente da FMP respondeu que vem “sem dúvida com a mesma segurança e confiança”.
“Até porque as nossas autoridades têm mostrado que estão vigilantes e atuantes, e naturalmente que, em concentrações sejam de motociclistas, musicais, desportivas, no âmbito do futebol, há sempre riscos e a vida também é feita um pouco de riscos”, considerou.
Mas o dirigente federativo disse acreditar que está tudo “em segurança”, porque todos os envolvidos na organização da concentração de Faro “são pessoas experimentadas” e os visitantes são “principalmente motociclistas” e “os motociclistas, por natureza, não são violentos, têm princípios de liberdade, amizade, confraternização e entreajuda”.
“Como em todas as classes, e todos os grupos e associações e em toda a vida, existem pessoas melhores e piores”, lamentou, considerando que “quem está fora das regras” estará nas preocupações das autoridades policiais.
Jorge Mendes também se deslocou a Faro de moto, é de Seia e disse estar atualmente a trabalhar como empresário em Angola e vem a Portugal “todos os anos nesta altura para coincidir com a concentração” algarvia.
Questionado sobre a segurança, respondeu que “a todos preocupa situações destas e outras que podem surgir”, mas assegurou que “não foi isso que desmotivou” a ir a Faro.
“Pelo contrário, temos que ser fortes, dar a mão e lutar contra essas coisas. Para combater essas criminalidades que existem e essas pessoas em concreto, devemo-nos unir e aparecer, não nos devemos encolher, devemos ser mais nós e combater isso com a presença”, considerou.
Também Carlos Silva disse ter vindo de Viseu na quarta-feira e que só vai embora na segunda-feira, após a conclusão da concentração, onde gosta de estar pela “amizade” e por ser “um espetáculo” que acompanha “há muitos anos”.
Sobre a segurança e a hipótese de não ir a Faro foi claro: “Não, as coisas estavam a ser controladas e ainda bem que controlaram, mas viria cá sempre, na mesma”, garantiu.
A 37.ª edição da Concentração de Motos de Faro começa hoje e prolonga-se até domingo, sendo esperados 18 mil participantes, que terão segurança reforçada da GNR, uma semana após as detenções de 59 elementos do grupo motociclista Hells Angels.
A GNR anunciou na quarta-feira, em comunicado, que esta edição da Concentração de Faro terá um efetivo superior, sobretudo da Unidade de Intervenção.
A par deste reforço, o comando territorial de Faro vai realizar “uma operação de segurança de grande visibilidade” dirigida aos motociclistas, automobilistas e público que participa na concentração internacional.
A edição de 2018 decorre após a Polícia Judiciária ter detido, na semana passada, 58 elementos do grupo de motociclistas Hells Angels em Portugal (a que se soma um outro na Alemanha), por indícios de associação criminosa, tentativa de homicídio, roubo, ofensa à integridade física, posse e tráfico de armas proibidas e tráfico de droga.
Dos 58 detidos em Portugal, o Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa determinou na quarta—feira prisão preventiva para 39 arguidos e apresentação periódica às autoridades para os restantes 19.
Os arguidos que ficam em liberdade estão proibidos de sair dos concelhos das respetivas residências e participar em concentrações ‘motards’.
A coordenadora da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo, Manuela Santos, assumiu em conferência de imprensa que a operação policial de desmantelamento do grupo, a 11 de julho, teve em conta a realização do encontro de Faro e a possibilidade de ajustes de contas entre grupos rivais.
A organização da Concentração de Motos de Faro afirmou por sua vez que vai manter a segurança habitual no recinto.
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