Vários milhões de bonecas Barbie foram vendidas no mundo desde que a Mattel as lançou há 60 anos. Ao longo do tempo, a marca tem vindo a diversificar os seus modelos. Agora, em tempo de pandemia, é altura de homenagear as mulheres da ciência.

"A Barbie reconhece que todos os trabalhadores da linha da frente fizeram enormes sacrifícios ao enfrentar a pandemia e os desafios que ela agravou", referiu Lisa McKnight, vice-presidente sénior das bonecas da Mattel. "Para evidenciar os seus esforços, estamos a partilhar as suas histórias e a aproveitar a Barbie para inspirar a próxima geração a seguir estes heróis. A nossa esperança é alimentar e inflamar a imaginação das crianças que interpretam a sua própria história como heróis", foi referido em comunicado divulgado pela Mattel.

Desta forma, foi criada uma coleção com seis bonecas, todas elas inspiradas em figuras importantes da área. Mas quem são elas?

  • Audrey Cruz

A médica de Las Vegas, nos EUA, é homenageada pelo trabalho realizado, em cooperação com outros profissionais de saúde ásio-americanos, na luta contra a discriminação racial durante a pandemia.

"Sinto-me muito honrada por ser uma Barbie Role Model, como parte do programa #ThankYouHeroes, escreveu a médica no Instagram.

"Espero destacar o empenho e compaixão que todos os trabalhadores da linha da frente exibiram ao longo do último ano e meio e todos os dias. Espero representar as minorias na América e encorajar a defesa cultural. Espero representar mães trabalhadoras que equilibram as suas carreiras enquanto criam uma família. E espero mostrar a todas as jovens mulheres que elas podem ser qualquer coisa que queiram ser — mesmo uma mãe médica e uma licenciada em engenharia como eu", pode ler-se.

  • Jacqueline Góes de Jesus

A investigadora brasileira em biomedicina liderou a investigação de uma nova variante do vírus no Brasil, pelo que também foi uma das escolhidas pela Mattel para esta coleção.

"Em toda a minha história, jamais imaginei que me tornariam uma Barbie e confesso que ainda estou processando tudo que está acontecendo", escreveu a investigadora no Instagram.

"Enquanto mulher negra, ser presenteada com uma boneca Barbie que tem todas as minhas características é simplesmente um sonho... Algo que, até bem pouco tempo, era uma realidade longínqua, para não dizer, inexistente".

"Neste momento, só consigo pensar em quantas meninas podem ser inspiradas por ela, quantas meninas negras podem olhar e sonhar em seguir a profissão de cientista, onde mulheres ainda são sub-representadas no mundo todo", referiu.

  • Kirby Whitby

No caso da médica australiana Kirby Whitby, esta fundou a "Gowns for Doctors", uma bata que pode ser lavada e reutilizada. Desta forma, os profissionais da linha de frente em Victoria conseguiam continuar o seu trabalho mais facilmente, sem riscos para os pacientes.

A ideia surgiu depois de o hospital onde trabalhava ter sofrido uma escassez destes materiais descartáveis, logo na terceira semana de pandemia, no ano passado. A iniciativa produziu mais de 5.000 batas desde que uma campanha GoFundMe angariou mais de 40.000 dólares para o seu desenvolvimento.

créditos: Instagram BBC
  • Sarah Gilbert

A professora britânica, responsável pela criação da vacina da Universidade de Oxford, foi também uma das contempladas nesta coleção de bonecas Barbie.

"Tenho paixão por inspirar a próxima geração de meninas nas carreiras Stem [ciência, tecnologia, engenharia e matemática ] e espero que as crianças que virem a minha Barbie percebam como as carreiras científicas são vitais para ajudar o mundo ao nosso redor", explicou. "O meu desejo é que a minha boneca mostre às crianças carreiras que elas podem não conhecer, como um vacinologista".

De recordar também que a rainha Isabel II condecorou os responsáveis pela vacina AstraZeneca, pelo que Sarah recebeu o título de "Dama".

  • Chika Stacy Oriuwa

A psiquiatra Chika Stacy Oriuwa, da Universidade de Toronto, no Canadá, foi homenageada pela Mattel devido à sua missão na luta contra o racismo no sistema de saúde.

No Instagram, referiu que se sente "entusiasmada e honrada" pelo sucedido, estando assim "ao lado de outras cinco mulheres a nível global que têm vindo a quebrar fronteiras nos seus campos ao longo da pandemia".

"Também recebi a minha própria boneca feita para se parecer comigo! É surreal pensar que uma vez brinquei com as minhas bonecas Barbie e as vesti como médicos, poetas e artistas e imaginar que um dia poderia ser essas coisas — e agora sou eu!", referiu.

  • Amy O'Sullivan

Outra das bonecas retrata a enfermeira que tratou o primeiro doente com covid-19 nas urgências do Hospital Wycoff em Brooklyn, nos EUA.

"Costumava ter dificuldade com os administradores [dos hospitais] devido às minhas tatuagens, ao meu cabelo e às minhas calças enroladas. Mas não queria ser como qualquer outra pessoa", referiu. "Tenho 58 anos, por isso não tinha modelos a seguir quando era criança. Isto [a Barbie igual a si], penso eu, mostra às crianças que está tudo bem ser diferente. Encoraja-os a serem eles próprios", explicou.

E em Portugal não há Barbies cientistas?

Apesar de não haver nenhuma mulher portuguesa representada nesta coleção, em Portugal existe o programa "Meninas na Ciência powered by Barbie", que surge no âmbito do projeto Dream Gap da Barbie — uma iniciativa global que visa combater a desigualdade e influenciar positivamente as mulheres do futuro.

"Atualmente, o papel da mulher na Ciência tem voz, com o reconhecimento de personalidades admiráveis que prestaram, e continuam a prestar, contributos imprescindíveis na área científica. Mas nem sempre foi assim", lê-se no site da iniciativa. "Ao longo de toda a nossa história – de Portugal e do resto do mundo — o papel das mulheres na Ciência era desvalorizado e colocado em segundo plano, quando comparado com o papel dos homens".

Desta forma, para "valorizar o papel da mulher na área científica, contribuir para o favorecimento da igualdade real e efetiva entre homens e mulheres, e apoiar as jovens adultas cujo futuro passe pela investigação, a Barbie decidiu lançar o projeto".

O programa  foi criado em parceria com Elvira Fortunato, cientista, investigadora e professora catedrática na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa e pretende "dar a oportunidade, a uma estudante que frequente o 12.º ano de escolaridade, em Portugal, de receber uma Bolsa de Estudo, no valor de 3.000€, para qualquer curso de Ciências e/ou Tecnologias da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa".

Mas no que consiste o desafio? "Para participar as alunas terão de desenvolver um projeto de inovação e criatividade que as ajude a responder à questão 'De que forma poderias mudar o mundo através da Ciência?', que deverá ser enviado para o email: meninasnacienciabarbie@gmail.com, até dia 15 de agosto".

Posteriormente, as candidaturas serão "analisadas por um painel de jurados de excelência" — do qual faz parte Elvira Fortunato, bem como Sara Marçal, manager market developer da Mattel Portugal e por Rosália Vargas, presidente da Ciência Viva.

No fim, serão selecionadas 10 finalistas, que terão a oportunidade de apresentar, a 2 de setembro, a sua ideia ao júri, "num pitch de 1 a 5 minutos, na Universidade Nova de Lisboa, que as avaliará mediante a criatividade e exequibilidade da proposta". A 20 de setembro será anunciada a grande vencedora.