A saúde psicológica dos portugueses tem sido, felizmente, um tema bastante debatido e que tomou uma proporção relevante na altura em que ficámos todos confinados devido à pandemia Covid-19. Desde então, francamente, o cenário ambiental não tem aliviado: primeiro a guerra, no início deste ano, agora uma crise económica a potenciar o impacto negativo de vivermos tanto tempo a gerir a incerteza nas nossas vidas. Todos estes fatores ambientais são importantes para o nosso equilíbrio psicológico e conjugam-se com a nossa resiliência e características individuais para determinar em que ponto passaremos a sentir danos psicológicos daqui derivados. Se juntarmos a isso o facto de estarmos em pleno outono, momento em que muitas pessoas sofrem alterações significativas no seu humor, é de extrema importância estarmos todos atentos a sinais de sofrimento psicológico que poderão ter manifestações mais frequentes e visíveis por esta altura do ano.

As mudanças de estação, especialmente a mudança do verão para o outono e do inverno para a primavera, são alturas do ano em que muitas pessoas experienciam alterações do seu humor. Na maioria das vezes, manifestam-se por sinais depressivos que podem oscilar de intensidade e, algumas vezes, adquirir importância clínica. As mudanças ambientais associadas ao outono, como a descida da temperatura ou a diminuição do tempo de luminosidade podem influenciar diretamente o nosso humor, provocando uma espiral de sintomas que se agravam uns aos outros. É frequente existirem alterações no padrão e na qualidade do sono, aumento da ansiedade, da irritação, maior isolamento e sedentarismo, uma tristeza ou desmotivação persistente que fazem com que os dias se transformem em pesadelos. Com as exigências do contexto ambiental que vivemos, este outono promete ser bastante exigente em questões de regulação do humor.

Ao que deve estar atento?

São sinais importantes a persistência da desmotivação, de humor depressivo, ansiedade, irritação, alterações no apetite, alterações no sono, cansaço, perda de energia, de concentração e desejo persistente de isolamento. Todos temos dias maus, e isso é natural, mas a permanência deste mal-estar ao longo de alguns dias, sem sinais de recuperação, deve ser um sinal de alerta.

O que devo fazer?

Existem algumas questões relacionadas com estilo de vida que podem ajudar a regular alguns sinais e sintomas. Por exemplo, a manutenção de uma rotina de exercício físico ajudará, entre outras coisas, a regular a ansiedade e o sono e poderá ser uma estratégia muito eficaz para abordar a alteração do humor. O compromisso com uma agenda de sono ajustada, que pode implicar um período de preparação para a noite de sono, diminuindo a estimulação atempadamente ou recorrendo à meditação, é altamente recomendável, assim como a dedicação a atividades de prazer, a promoção do contacto com pessoas significativas ou uma boa gestão da pressão na vida profissional.

Quando procurar ajuda?

Quando as alterações de humor já não são possíveis de gerir no contexto habitual do quotidiano, quando provocam alterações funcionais ou quando o sofrimento que comportam tenha uma interferência significativa na vida da pessoa. Deve haver um alerta especial para sentimentos de inutilidade, de falta de sentido na vida ou mesmo ideação suicida. No caso deste último fator, a procura de ajuda deve ser imediata.

A psicoterapia e a farmacoterapia são as abordagens mais comuns para situações em que seja necessária uma intervenção clínica especializada. São, muitas vezes, abordagens com ação cumulativa, ou seja, em algumas situações - que devem ser avaliadas - a intervenção simultânea permite melhores resultados. A medicação permite agir na regulação de substâncias que influenciam o humor, a psicoterapia nos processos cognitivos e emocionais subjacentes ao sofrimento. Não importa por onde se começa. Importa saber que há ajuda disponível, que é possível melhorar e que não se está sozinho quando as nuvens escuras toldam o horizonte.