Pizarro, um dos mais internacionais pianistas portugueses da atualidade, que iniciou os estudos com Sequeira Costa na infância, escolhe uma gravação da "Pequena Valsa", de Teresa Carreño, interpretada pelo professor, para o "lembrar (...) como ele gostaria... com charme, ao piano!"
A peça vem de um álbum de 'encores', publicado em 1995, quando Sequeira Costa, a par da cátedra de piano da Universidade do Kansas, cumpria uma agenda internacional de concertos, que manteve regularmente até aos 80 anos, e que todos os anos incluía Portugal no seu roteiro, da Temporada Gulbenkian de Música, ao Festival Internacional de Música de Sintra e ao da Póvoa de Varzim, que ajudou a fundar.
Distinguido em 2004 com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, Sequeira Costa foi um dos nomes mais significativos do piano português no século XX, tendo fundado o Concurso Internacional Vianna da Motta, de quem foi aluno, e gravado Schumann, Rachmaninov e Chopin, além da integral das Sonatas para Piano de Beethoven.
Em 2009, assinalou os 80 anos com quatro concertos ilustrativos da história do piano, na Casa da Música, no Porto, um ano depois de ter esgotado a Sala Suggia, com quatro concertos dedicados a Chopin e ao Mestre de Bona, e de ter atuado pela primeira vez a solo no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Em 2007, fizera a integral dos Concertos para piano de Beethoven, com a Orquestra da Comunidade de Madrid e o maestro José Ramon Encinar, no Teatro Albéniz, da capital espanhola. Em 2006, foi o protagonista do Concerto de Ano Novo da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a interpretar Rachmaninov e Ravel. Em 2005, atuou pela última vez no Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim.
José Carlos Sequeira Costa nasceu em julho de 1929, começou muito cedo a estudar música, teve como professor José Vianna da Motta, um dos derradeiros discípulos de Franz Liszt, e aperfeiçoou os seus conhecimentos com Mark Hamburg, Edwin Fischer, Marguerite Long e Jacques Fevrier, protagonistas da interpretação para piano, nas primeiras décadas do século XX.
As suas leituras de Beethoven, a par das de Albéniz e Rachmaninov, eram descritas “como verdadeiramente autênticas”, e o 'site' da Gulbenkian, na sua biografia, chegou a destacar o "seu sedoso fraseado" e o "seu som cristalino”.
Atuou pela primeira vez no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, já como solista, aos 18 anos, em janeiro de 1948.
Em 1951, venceu o Grande Prémio de Paris no Concurso Internacional Marguerite Long.
Em 1956, aos 27 anos, fundou o Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Lisboa e, no ano seguinte, foi convidado por Dmitri Chostakovitch para fazer parte do júri do primeiro Concurso Internacional Tchaikovsky, em Moscovo, onde regressaria seis vezes, nos anos seguintes, tendo como parceiros Sviatoslav Richter, Dmitri Kabalevski, Aram Khachaturian e Emil Gilels. Foi, na altura, o mais jovem membro do júri da história da competição.
Ocupou a cátedra "Cordelia Brown Murphy Distinguished Professor of Piano", na Universidade do Kansas, desde 1976.
Atuou nas principais salas de concerto a nível mundial, como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, o Kennedy Center, em Washington, o Musikverein de Viena, ou o Suntori Hall, em Tóquio.
Até aos 80 anos continuou a realizar digressões internacionais, a orientar cursos de aperfeiçoamento e a fazer parte de júris de concursos, como o do 1.º Concurso Internacional Sviatoslav Richter, em Moscovo, em 2005.
Pedro Burmester, João Bettencourt da Câmara e Artur Pizarro contam-se entre os seus alunos.
A sua discografia inclui música para piano solo de Ravel, Chopin, Schumann, Albéniz, Bach/Busoni, Vianna da Motna e Rachmaninov e um álbum dedicado aos seus 23 'encores' preferidos, "A Musical Snuffbox", de onde Artur Pizarro escolheu a "Pequena Valsa", de Teresa Carreño.
Gravou os concertos para piano de Schumann, Rachmaninov e Chopin e concluiu, em 2006, em Londres, a integral das Sonatas para Piano de Beethoven.
Em 2004, disse à jornalista Ana Sousa Dias, em entrevista na RTP, que, por ter “abraçado inteiramente o espírito de Beethoven” ao dedicar-se à interpretação da integral das sonatas do compositor alemão, se sentia “para além da vida humana já”.
Sequeira Costa classificava Bach como o “sol de todos os compositores” e destacava Liszt como estando entre os seus criadores preferidos, por ter sido seu “avô espiritual”, ao ter ensinado Vianna da Motta.
“A chamada inspiração não existe. A inspiração é o resultado de um trabalho afincado, premeditado. Talento há, felizmente que é raro. Porque hoje em dia há milhares de pianistas, então os asiáticos estudam 25 horas por dia e não serve para nada, porque não têm o talento necessário como têm os europeus, mas isso é normalíssimo porque a nossa cultura de Beethoven, Bach, Chopin, era no centro da Europa”, disse à RTP, na altura.
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