Em 2017, “a área regada reduziu 30%” e, este ano, “estima-se que mais de 50% da área [irrigável] não poderá ser regada”, o que representará “um prejuízo direto de mais de 1,1 mil milhões de euros no saldo da balança comercial” do setor agrícola, que “agrega 150.000 empresas agrícolas responsáveis por 175.000 postos de trabalho diretos”, refere a Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg).
Num comunicado enviado à agência Lusa, a Fenareg alerta para as “fortes restrições” que este ano haverá “em quase todas” as áreas de rega, sendo que “a maioria não terá água”.
Segundo o boletim das albufeiras da Autoridade Nacional do Regadio, ou seja, a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), emitido no dia 02 deste mês, “após quatro anos consecutivos de precipitação inferior à média”, atualmente, as reservas de água situam-se nos 36%, refere a Fenareg.
“Os agricultores são os primeiros afetados pela seca e terão que adaptar as culturas e as áreas cultivadas à água disponível”, indica a federação, referindo que “redução de colheitas e menores rentabilidades são efeitos da seca prolongada e que acabam transferidos à indústria agroalimentar e à economia rural”.
Segundo o boletim das albufeiras da DGADR, “a bacia do Sado apresenta as maiores limitações de água a nível nacional, variando o volume útil de água disponível nas nove albufeiras da região de 0% a 17%”, frisa a Fenareg, alertando: “A manter-se a situação atual de seca, a cultura do arroz, será inviável no Vale do Sado”.
De acordo com o diretor executivo do APARROZ – Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado, citado pela Fenareg, “com os atuais níveis de água nas barragens não conseguiremos ir além dos 600 hectares de arroz no Sado, onde num ano normal se cultiva 7.500 hectares de arroz”.
A Fenareg defende que “a única forma de viabilizar” a cultura de arroz e outras culturas agrícolas na região do Sado é através da transferência de volumes de água da albufeira do Alqueva para as albufeiras periféricas, “algumas das quais terão necessidade de comprar 100% da água” à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).
Porém, a compra de maiores volumes de água à albufeira do Alqueva pelas associações de regantes “terá uma repercussão direta nos custos da água, com um agravamento estimado de 50% a 70% no preço da água a pagar pelos agricultores, o que inviabiliza a realização da maioria das culturas anuais na bacia do Sado”, como as de arroz e milho.
“São urgentes medidas compensatórias aos agricultores pelo agravamento de custos com a rega”, alerta a Fenareg, lembrando que apresentou ao Ministério da Agricultura, em novembro de 2017, uma proposta de medidas naquele sentido e com vista a ajudar os agricultores “a minimizar os efeitos da pior seca dos últimos 20 anos”.
A federação defende a continuação da modernização do regadio, que “significou um grande avanço na poupança de água: em três décadas, a agricultura reduziu para metade a água utilizada por hectare”.
Neste sentido, o Programa Nacional de Regadios, cujo arranque foi assinalado pelo ministro da Agricultura no dia 02 deste mês, “será mais um progresso na adaptação às alterações climáticas”, frisa.
“Como aposta na competitividade da agricultura”, também a Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia pós 2020 “deve assegurar a continuidade dos investimentos em regadio para melhor resiliência aos períodos de seca”, refere a Fenareg.
Comentários