A linha de ajuda foi criada em 1998, para dar resposta às necessidades dos jovens nas áreas da Sexualidade e do Planeamento Familiar, num contexto global de promoção da saúde e prevenção de comportamentos de risco, um projeto pioneiro que resultou de uma parceria entre a Associação para o Planeamento da Família e o Instituto Português do Desporto e Juventude.

Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Contraceção, a coordenadora da “Sexualidade em Linha”, Paula Pinto, fez um balanço dos 20 anos do serviço gratuito, que “informa, orienta, encaminha e esclarece dúvidas sobre saúde sexual e reprodutiva”, como relações de namoro, conjugalidade, contraceção, gravidez e gravidez não desejada, violência sexual, infeções sexualmente transmissíveis, orientação sexual, questões de género.

“O que temos verificado ao longo dos anos é que as próprias pessoas que ligam para a linha foram crescendo e acompanhando várias fases da sua vida e necessidades diferentes face às respostas que o serviço lhes dá neste âmbito”, disse Paula Pinto, adiantando que, atualmente, é a população em geral que liga cada vez mais.

A coordenadora do serviço, que funciona nos dias úteis das 11:00 às 19:00 e aos sábados das 10:00 às 17:00, através do número 808222003, explicou que o facto de a linha ser confidencial e anónima permite que as pessoas estejam “completamente à vontade” para colocar as suas questões.

“A Sexualidade em Linha é um serviço com características muito específicas que está aberto a todo o país e em que a resposta pode ser no imediato”, resolvendo “situações de informação e aconselhamento que dispensam uma procura mais exaustiva face a uma consulta ou qualquer recurso no âmbito do planeamento familiar e de informação sobre sexualidade em geral”, explicou.

Quando necessário é feito o encaminhamento das pessoas para consultas de planeamento familiar, de psicologia ou para gabinetes juvenis, de acordo com a área de residência.

Embora os novos métodos contracetivos, os implantes, o anel vaginal e o adesivo contracetivo – suscitem várias dúvidas, a “grande percentagem” de questões colocadas continua a ser sobre a toma da pílula, nomeadamente por esquecimento, interações com medicamentos e eficácia.

São também colocadas questões mais generalizadas, relacionadas com a vivência da sexualidade, que diferem das perguntas feitas nos primeiros anos do serviço, que eram suscitadas com a adolescência e ligadas às curiosidades que existem face a alguns conceitos, como “o que é o orgasmo” ou “a virgindade”.

Atualmente, as questões já não colocadas desta forma, embora continuem a surgir perguntas sobre o início das relações e determinadas práticas sexuais. “Há uma variação com as temáticas que estão a ser abordadas na sociedade em determinada fase”, disse, recordando a altura em que se “falava muito no sexo tântrico” e os jovens ligavam a perguntar o que era esta prática.

A internet também veio alterar o tipo de informação solicitada: “nos primeiros anos, a Linha era uma forma de abordar determinados assuntos que, de outra forma, não seriam tão fáceis [de abordar]. Atualmente, temos a perceção de que os jovens facilmente acedem a conteúdos neste âmbito”, muitas vezes de “qualidade duvidosa” em termos de credibilidade científica, que lhes suscitam dúvidas e ligam para as esclarecer.

Paula Pinto deu como exemplo o preservativo. Os jovens sabem que a sua utilização é o único método eficaz na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, mas ainda são poucas as perguntas que chegam ao serviço no sentido da prevenção.

“Se o preservativo rompe, a preocupação imediata é a gravidez e mais dificilmente será uma preocupação com a possibilidade de contrair uma infeção por transmissão sexual”, frisou.

A linha faz uma média de 4.000 atendimentos por ano, um número que apesar de ser considerado bom pela responsável, “fica aquém” dos números previstos caso “existisse uma divulgação mais efetiva do serviço”.

“É um recurso que devia ser mais do conhecimento da população em geral porque trabalha a prevenção a nível da educação sexual e dos comportamentos de risco. É um cuidado de saúde primário”, defendeu.