“A proposta dos colegas de pediatria é muito clara: têm que deixar de fazer bancos de urgência à noite, porque só sete pediatras é que fazem urgência e, desses sete, só quatro têm menos de 55 anos [e fazem noites]”, frisou à agência Lusa o presidente do sindicato, João Proença.
Segundo o responsável, há uma grande carência de pediatras neste hospital de Almada, no distrito de Setúbal, o que faz com que os médicos ao serviço se encontrem “exaustos” por terem que fazer banco de urgência “dia sim, dia não”.
O sindicalista sublinhou ainda que, “neste momento, estes colegas estão a fazer bancos de 24 horas quatro vezes por semana”.
“Vários setores de serviço estão direcionados para a urgência, que é uma porta aberta para as pessoas, mas não tem qualidade e põe em causa a vida dos próprios médicos”, afirmou.
Para João Proença, este problema deve ser resolvido rapidamente, porque senão, “para a semana, já não vai haver gente suficiente para se fazer a urgência”, uma vez que mais quatro pediatras equacionam a demissão “se não forem feitas mudanças claras”.
A proposta do sindicato e dos especialistas é que “transfiram médicos de outros hospitais” para que se consiga assegurar a escala de serviço com dois graduados em pediatria e dois internos, ao invés de apenas um especialista, como tem acontecido neste hospital, onde se atendem cerca de 200 crianças por dia.
“A proposta é que se deixe de fazer noites e se fizesse um protocolo com a Estefânia e Santa Maria para uma transferência de médicos aqui para o Garcia de Orta, com o pagamento devido, para que se consigam abrir quadros neste hospital e rapidamente se contratem pessoas”, explicou.
A falta de pediatras no Garcia de Orta já se arrasta há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais, mas nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar esta carência porque “ninguém concorreu”, adiantou o responsável.
“Ninguém vai concorrer para o Hospital Garcia de Orta para ficar de banco dia sim, dia não”, frisou.
Esta deve ser outra das mudanças, defendeu o médico.
“É preciso motivar as pessoas, dar condições de trabalho e espírito de equipa para que lutem pelo serviço público e não estejam exaustos”, defendeu.
Já José Lourenço, da Comissão de Utentes da Saúde do Concelho do Seixal, criticou a “inoperância” do conselho de administração do hospital e as “nomeações políticas”, que fazem com que os responsáveis não sejam “suficientemente independentes para pressionar o poder central”.
A agência Lusa contactou a administração do Garcia de Orta, que remeteu esclarecimentos para mais tarde, por escrito.
Em fevereiro surgiu o primeiro alerta para a situação da urgência pediátrica no Hospital Garcia de Orta, em que a Ordem dos Médicos afirmava que a urgência pediátrica corria o risco de fechar no período noturno por falta de médicos.
O encerramento nunca se concretizou, devido à contratação de médicos em regime de prestação de serviços, mas, nos últimos meses, várias têm sido as denúncias por parte do sindicato e comissão de utentes do Seixal para a falta de profissionais.
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