Depois de a comissão coordenadora das comissões de trabalhadores do parque industrial de Palmela, que conta com quase duas dezenas de empresas fornecedoras da fábrica Autoeuropa, ter criticado hoje aquilo que considera ser o protagonismo de sindicatos, veio a resposta do lado dos visados.

O coordenador da federação dos sindicatos com representação na Autoeuropa, Rogério Silva, afirmou hoje à Lusa que "o protagonismo que os sindicatos têm neste processo é proporcional ao protagonismo dos trabalhadores", que expressaram a sua opção "de forma muito clara no referendo realizado na semana passada".

Na sexta-feira, 74,8% dos trabalhadores da Autoeuropa rejeitaram o pré-acordo alcançado entre a comissão de trabalhadores e a administração da empresa para os novos horários e turnos, mediante compensação financeira de 175 euros acima do valor previsto na legislação, tendo contado apenas com 23,4% de votos favoráveis num universo de 3.472 votantes.

Já hoje, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente do Sul, que se reuniu na quarta-feira com a administração da Autoeuropa, manteve a greve agendada para 30 de agosto e convocou um plenário para o dia 28.

Sobre esta questão, Rogério Silva reiterou que, na reunião com a administração da empresa, os sindicatos representados na Autoeuropa exigiram que "os horários sejam de segunda a sexta e que o trabalho ao sábado seja remunerado como tem vindo a ser remunerado até aqui".

"A administração da empresa ficou de pensar numa alternativa e nós retiraremos a greve aprovada para dia 30 na medida em que a administração corresponda às expectativas dos trabalhadores e que encontre uma solução", disse o coordenador da federação afeta à CGTP, acrescentando que a federação "estará disponível como sempre para, por via do diálogo, evitar o conflito".

Numa carta aberta, o coordenador da comissão de trabalhadores da Autoeuropa, Fernando Sequeira, refere que a solução acordada com a administração, "além das remunerações adicionais, previa a redução do horário de trabalho semanal para as 38,20 horas, o que corresponde a aproximadamente menos 10 dias de trabalho por ano".

Fernando Sequeira acusa o Sitesul de "ir na onda populista" e de não ter "aprendido nada com a Opel Azambuja", cuja fábrica foi encerrada, e lamenta que os sindicatos "prefiram trabalho extraordinário à criação de emprego".

Os trabalhadores da Autoeuropa têm vindo a contestar os horários por turnos propostos pela administração da empresa, devido ao início de produção de um novo veículo na fábrica de Palmela.

Na terça-feira a comissão de trabalhadores da fábrica de automóveis demitiu-se na sequência da recusa da maioria dos funcionários do pré-acordo para aumentar horários e turnos, disse à Lusa Fernando Sequeira, membro do organismo.

O grupo Volkswagen tem justificado a necessidade dos novos horários com a produção de 200 mil unidades do novo modelo "T-Roc", quase triplicando a produção atingida em 2016, o que significa ainda a contratação de "cerca de 2.000 colaboradores, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção".

O entendimento atingido na quinta-feira e rejeitado na sexta tinha já sido aprovado por maioria na comissão de trabalhadores, mas com votos contra dos sindicatos afetos à CGTP, designadamente dos representantes do Sitesul e da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (Fiequimetal).