O chefe de Estado não quis comentar a desfiliação do Partido Socialista de José Sócrates, alegando que se trata de um caso individual, que está a cargo da justiça e que envolve a vida interna de um partido.

“Portanto, a três títulos, eu não posso comentar esta matéria”, acrescentou.

Perante a insistência dos jornalistas, em Évora, o Presidente da República disse ter, “há muitos anos”, uma posição, em “questões genéricas”, contra as ligações entre setores económicos e políticos.

“Quando fui líder partidário, num congresso, fiz um grande ataque às ligações que havia ou podia haver entre setores económicos e políticos. Isso é em geral”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

Nesta deslocação a Évora para a apresentação do trajeto entre esta cidade e Trancoso dos Caminhos de Santiago – Via Portugal Nascente, o Chefe de Estado foi também questionado sobre a necessidade de uma revisão ao regime de abonos dos deputados.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a recusar comentar “casos individuais ou por grupo”, mostrando-se convicto de que a Assembleia da República “está permanentemente atenta àquilo que é preciso fazer para que não haja dúvidas”.

“É a casa da democracia, defensora da transparência, a transparência é uma componente fundamental dessa democracia e, certamente, que, em cada momento, irá aperfeiçoando os mecanismos para que a transparência se afirme e a democracia também”, disse.

“Foi isso que eu quis dizer na cerimónia do 25 de Abril”, vincou Marcelo, repetindo que as instituições “devem estar atentas aquilo que é a melhor forma de realizar o espírito da Constituição da República Portuguesa e dar força e qualidade à democracia”.

Caso contrário, alertou, cria-se “um vazio, dúvidas e interrogações que são negativos para a democracia”.

José Sócrates, 60 anos, é o principal arguido na Operação Marquês, em que está acusado de vários crimes económico-financeiros, incluindo corrupção e branqueamento de capitais.

No âmbito da investigação, esteve preso preventivamente durante 288 dias, entre novembro de 2014 e setembro de 2015.

Sócrates aderiu ao PS em 1981, e foi secretário-geral do partido entre 25 de setembro de 2004 e 06 de junho de 2011.

Em 2005, obteve a primeira maioria absoluta do PS em eleições legislativas e foi primeiro-ministro até 2011, depois de o seu Governo ter pedido ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

Num artigo publicado hoje no Jornal de Notícias, José Sócrates disse que a sua saída do PS visa acabar com um “embaraço mútuo”, após críticas da direção que, na sua opinião, ultrapassam os limites do aceitável.