A iniciativa contou com a presença do secretário-geral da intersindical nacional, Arménio Carlos, e da coordenadora geral do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, que lideraram a caminhada entre o Parque de Santa Maria de Lamas e a sede da Associação Portuguesa da Cortiça, passando pela residência que o Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte (SOCN) indicou como morada de um dos patrões da empresa Fernando Couto Cortiças S.A..
Foi essa firma que em 2017 despediu Cristina Tavares com o argumento da extinção do seu posto de trabalho e que em 2018 foi judicialmente obrigada a reintegrá-la, após o que no passado mês de novembro foi autuada em 31.000 euros pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) por assédio moral à operária e a 10 de janeiro a despediu alegando justa causa por difamação.
“Este segundo despedimento ilegal (…) é uma atitude de retaliação por parte da empresa, desrespeitando não só uma decisão do tribunal, mas também ignorando o facto de a própria ACT ter reconhecido que a trabalhadora estava a ser vítima de assédio, de humilhação e de um trabalho improdutivo – porque todos os dias trabalhava e isso não servia para nada”, declarou Arménio Carlos.
Apelando a que casos idênticos sejam denunciados aos sindicatos, o secretário-geral da CGTP realçou que a luta de Cristina Tavares “é a de muitos trabalhadores que sofrem os mesmos problemas nos seus locais de trabalho e até agora não tiveram possibilidade de os divulgar ou resolver”.
Catarina Martins apontou a operária como “uma heroína” e “um exemplo para o país”, afirmou que “toda a gente que leva a dignidade de quem trabalha a sério tem que estar solidária com a Cristina” e criticou a Associação Portuguesa da Cortiça pelo seu “inacreditável” silêncio.
“Um setor que se quer afirmar como um dos mais importantes da economia portuguesa achar normal estas práticas laborais e não dizer nada quando uma [firma] sua associada tem práticas contra a lei e contra decisões dos tribunais é um branqueamento dessa empresa, o que não é aceitável”, declarou.
Aguardando que o Ministério Público se pronuncie sobre matéria “eventualmente criminal” na atuação da Fernando Couto Cortiças S.A, a líder do BE acrescentou: “Se os produtores da cortiça querem ser um setor da economia respeitado no nosso país, não podem só falar das exportações – têm também que dizer que não aceitam que uma trabalhadora seja tratada desta forma”.
Arménio Carlos expressou posição idêntica, ao defender que, com o seu silêncio, a APCOR “acaba por se tornar cúmplice” de todo este processo. “O que se exigia é que uma associação patronal que negoceia regularmente com o sindicato fosse a primeira a chamar a atenção da entidade patronal, dizendo que aquele tipo de comportamento não era nocivo só para a imagem daquela empresa – era também nocivo para toda a imagem do setor corticeiro”, explicou.
Contactada pela Lusa, a APCOR comunicou que “condena todas as práticas discriminatórias, mas não lhe cabe emitir opiniões sobre a legalidade de casos particulares, sobretudo quando estão a ser acompanhados pelas instituições judiciais e civis que tutelam estas matérias”.
Fonte oficial desse organismo acrescentou: “Desejamos, e estamos certos que este é também o desejo da empresa e dos seus trabalhadores, que as questões se resolvam nos locais certos e entre as partes interessadas, sem aproveitamentos públicos e mediáticos”.
Alírio Martins, presidente do SOCN, referiu que os serviços jurídicos dessa estrutura sindical continuam empenhados em provar que todos os argumentos da Fernando Couto Cortiças S.A. contra Cristina Tavares são “uma aldrabice” e anunciou nova ação solidária para o dia 26 de janeiro: um cordão humano junto à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, símbolo institucional de uma região que diz “toda monopolizada pelo setor da cortiça”.
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