José Maria Eustáquio, presidente da Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário (ACAPO), entidade que junta 37 associações culturais portuguesas no Canadá, disse à agência Lusa que são nestas situações que se vê que a comunidade portuguesa “é diferente das outras”.

“Este momento confirma que a nossa comunidade é diferente e é única, em momentos de grande necessidade, na sequência de situações infelizes que sucedem. Criamos este evento para nos juntarmos”, afirmou o dirigente.

A marcha solidária, com alguma chuva à mistura, teve lugar no sábado à tarde, num percurso entre a Casa das Beiras e o Earlscourt Park, área onde reside uma grande comunidade portuguesa, numa altura em que estão a decorrer este fim-de-semana espectáculos do 150.º aniversário do Canadá, com a atuação de artistas lusodescendentes no Earlscourt Park.

José Maria Eustáquio revelou que muito em breve irá a Portugal uma comissão da organização do evento “entregar os fundos angariados”, que já superam 100 mil dólares canadianos (67,5 mil euros).

“As verbas serão canalizadas para a Associação de Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande e para os concelhos vizinhos na área de Leiria e de Coimbra”, acrescentou.

A Casa das Beiras de Toronto, fundada em 2000, tinha uma “responsabilidade em aderir à angariação de fundos”, visto representar a Beira Litoral, zona afetada pelo incêndio, sublinhou Bernardino Nascimento, presidente da coletividade.

“A Casa das Beiras tem por si própria uma responsabilidade em aderir nesta angariação de fundos nesta marcha silenciosa pelo facto de a região afetada pelo incêndio estar localizada na Beira Litoral e de sermos uma associação que representa aquela região”, frisou.

Além de ser um “orgulho” é também um momento de “tristeza” integrar a equipa de “angariação de fundos” para os “conterrâneos que perderam a vida” e todos aqueles que “estão a refazer a vida na região das beiras”.

Na marcha participou também a deputada provincial do Ontário Cristina Martins, uma beirã representante do distrito eleitoral com mais lusodescendentes do Canadá, a Davenport. “Sinto-me muito contente, se é que posso utilizar esse termo num momento destes, com a população que saiu à rua para demonstrar a sua solidariedade para com as vítimas e famílias afetadas”, disse.

Esta é uma forma de a comunidade demonstrar que “o Canadá está com Portugal em todos os momentos”, “sejam alegres, tristes ou como os do incêndio em Pedrógão Grande”, destacou.

Apesar da chuva, a comunidade portuguesa aderiu, o que revela que “está unida”, enalteceu a vereadora da Câmara Municipal de Toronto, Ana Bailão, também participante na marcha.

“São nestas situações que se vê o espírito. Não há chuva que venha impedir espírito de ajuda e de auxílio que a comunidade quis prestar a Pedrógão Grande”, declarou, realçando o momento particularmente simbólico das celebrações do aniversário do Canadá e da cultura luso-canadiana.

Foi também gravada uma música, interpretada por dez artistas de expressão portuguesa, intitulada ‘Rezo Essa Canção/Together As One’, ao “estilo de We Are the World”, música célebre dos anos 80 com vários artistas, contou Reno Silva, um dos produtores.

“Fizemos uma música ao estilo de ‘We Are the World’. Um artista canta cada frase da letra. A primeira metade é em português e a segunda é em inglês, e já na parte final é em ambas as línguas”, disse.

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos e só foi dado como extinto uma semana depois.

Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

A área destruída por estes incêndios na região Centro corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em março.

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela.