“Viemos manifestar as nossas preocupações em relação a esta operação de dragagem, que vai fazer uma operação de escavação num canal com uma extensão de 13 quilómetros, e defendemos que essa escavação, devido à suspensão de sedimentos, vai interferir profundamente em toda a vida marinha”, afirmou à Lusa Sérgio Godinho.

O dirigente do movimento SOS Sado, que falava após uma audição da comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, acrescentou que metade do troço a dragar “está a cerca de 250 metros do limite do Parque Marinho Luís Saldanha”.

“O mar, como não tem fronteiras, não é uma coisa hermética, obviamente que vai haver misturas de sedimentos dragados”, alertou.

Segundo o ativista do SOS Sado, não é conhecida que “classe de sedimentos dragados estão em causa” e notou que “devia ter existido mais estudos, sobretudo da parte ambiental, que medisse a resiliência dos ecossistemas face às agressões a que vão ser sujeitos”.

Além de exigir uma maior avaliação da “robustez do plano rodoviário, face ao aumento de camiões que vão transportar mais contentores”, Sérgio Godinho admitiu preocupação também com “questões de saúde pública, pois o próprio estudo de impacto ambiental reconhece que na fase de obra, para se construir a ampliação do cais”, vai implicar “cerca de 141 mil viagens, em seis meses”.

“Isto dará 81 viagens por dia e as partículas estão associadas a doenças cardiorrespiratórias, portanto o estudo assume que as partículas vão ser superiores ao admissível em termos protocolares”, frisou.

Alexandra Silva, do SOS Sado, referiu que “a poluição do ar é um aspeto muito relevante, em termos de saúde pública, mas o tráfego de navios, não só na fase de execução, mas também de manutenção do projeto, vai ter impactos em termos de gases com efeito de estufa”.

“O porto não tem hoje um plano de monitorização do ar”, apontou Alexandra Silva.

Os elementos do movimento explicaram que pretendem continuar a trabalhar “onde o Estado está a falhar”, no esclarecimento da população acerca dos benefícios e dos riscos do projeto.

Alexandra Silva salientou que “a economia do mar tem muito para dar” nas suas diferentes dimensões, não apenas na área portuária, mas também na vertente turística em torno da comunidade de golfinhos residente no estuário.

Outro elemento do SOS Sado, Vítor Joaquim, lamentou que não tenha ainda sido concretizada a criação de um gabinete de atendimento, para que as populações possam ser informadas do projeto, encontrando-se a decorrer uma petição contestando os impactos das dragagens, que já conta “com mais de 12 mil assinaturas”.

Na audição parlamentar, os elementos do SOS Sado foram interpelados por deputados do PS, PSD, PCP, BE e PAN.