“Colocaram-me do lado errado da barricada, quando decidiram passar-me de testemunha a arguido 44”, disse Bruno de Carvalho na 35.ª sessão do julgamento da invasão à academia, acrescentando: “Passados quase dois anos do acontecimento, não compreendo como é que estou aqui na qualidade de arguido”.
O antigo presidente leonino, que voltou a classificar a invasão à academia, ocorrida em 15 de maio de 2018, como “um crime hediondo e vergonhoso”, garantiu não ter “qualquer conhecimento ou suspeita” de que algo do género pudesse acontecer.
Bruno de Carvalho, que liderou o clube entre março de 2013 e junho de 2018, admitiu ter assistido aos incidentes que se seguiram à derrota (2-1) do Sporting na Madeira, “pela televisão” e disse ter ficado com a ideia de que existia um problema na Juventude Leonina entre Fernando Mendes e Nuno Mendes, conhecido por Mustafá, antigo e atual presidentes da maior claque do clube, respetivamente, e ambos também arguidos no processo.
Bruno de Carvalho referiu que na reunião que teve com o plantel no dia 14 de maio, depois da derrota no Funchal, perguntou aos futebolistas Acuña e Battaglia “porque é que se tinham metido logo com o antigo líder da claque, no aeroporto da Madeira”.
O ex-presidente do Sporting, para quem o futebolista William de Carvalho é “useiro e vezeiro a mentir”, disse ainda que o atual jogador do Bétis de Sevilha o acusou de ser o responsável pelo ataque.
“Assim que cheguei à academia [depois do ataque], o William disse-me: ‘Pensa que não sabemos que foi você que mandou fazer isto’”, referiu.
O arguido disse ter estado, a pedido de André Geraldes, ‘team manager’ do clube à data, numa reunião “que não teve ponta por onde pegasse”, na ‘casinha’, a sede da Juve Leo, em 07 de abril de 2018, dois dias depois da derrota (2-0) do Sporting no terreno do Atlético de Madrid, para a Liga Europa.
“Estavam dezenas de pessoas, todas aos gritos, muitas a fumar charros, quiseram agredir-me, o primeiro que me quis agredir foi o Camará, que é o mais ‘pequenino’ deles todos. Até disseram que iam pôr tarjas contra mim”, contou, acrescentando ter dito “façam o que quiserem” porque o que queria “era fugir dali”.
Admitindo que ele e Fernando Mendes não gostavam um do outro, Bruno de Carvalho explicou que a relação com ‘Mustafá’ era de respeito.
“Conseguimos ganhar uma relação de respeito, mas a verdade dos factos é que eu acabei por gostar do Nuno Mendes porque ele é tão genuíno, que nos faz rir. Sempre me respeitou e eu o respeitei. Ele era sempre mais uma solução do que um problema”, referiu, descartando a hipótese de o presidente da Juve Leo ser “uma espécie de guarda pretoriana”.
Bruno de Carvalho foi o 22.º e último arguido depor, depois de durante a sessão de hoje terem sido ouvidos Eduardo Nicodemes, Ricardo Neves e Fernando Mendes.
O julgamento prossegue em 11 de março com as alegações, dia em que todos os arguidos são obrigados a comparecer em tribunal.
O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho, tal como o líder da claque Juve Leo, Mustafá, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, responde, como autor moral, por 40 crimes de ameaça gravada, por 19 crimes de ofensas à integridade física qualificadas e por 38 crimes de sequestro (estes 97 crimes classificados como terrorismo, puníveis com pena de prisão de dois a 10 anos ou com as penas correspondentes a cada um dos crimes, agravadas em um terço nos seus limites mínimo e máximo, se estas forem iguais ou superiores).
Os restantes arguidos (41) são acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
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