"Não nos vamos demitir". Bruno de Carvalho, presidente do Sporting Clube de Portugal é perentório e garante que, "a bem do Sporting", não se afastará do poder.

Fala, antes, de um “ataque interno e externo sem precedentes na história [do clube]", cujo objetivo é "claramente obrigar à demissão [do conselho diretivo]", acusa. "Para que fique claro desde já: não nos vamos demitir”, disse logo no arranque. “Sentimos que o nosso dever é, a bem do Sporting Clube de Portugal, ficar”.

“As manobras dos rivais já as percebemos, mas manobras daqueles que deviam estar unidos em torno dos interesses do clube não são por nós desconhecidas. O que move esses sportinguistas iremos perceber em breve”, disse Bruno de Carvalho, criticando as movimentações internas que têm surgido.

“Em vez disso, em vésperas de um jogo tão importante, são os de dentro a ajudar os de fora nestes ataques torpes”. E, por isso, questiona: “o que move estes sportinguistas?”

"No momento em que se pede responsabilidade e racionalidade a todos os elementos dos órgãos sociais, olhamos para o lado e o que vemos? Pedidos e ameaças de demissões, pressões tremendas para mais demissões e — aqui não estava escrito mas acrescento — inclusivamente dizendo às pessoas que nunca mais terão trabalho na sua vida", diz Bruno de Carvalho, afirmando tratarem-se de "ameaças e chantagens" lamentáveis.

"Aquilo que nós não vemos são os superiores interesses do Sporting Clube de Portugal a estarem a ser protegidos. Ao contrário, estão a ser colocados de lado", acusa.

Bruno de Carvalho reiterou que a Assembleia Geral é o local próprio, de acordo com os estatutos, para “esclarecer todas as questões” que os sócios do clube possam ter e reforçou que o clube tem pela frente “temas inúmeros e responsabilidades tremendas e compromissos, como sejam um empréstimo obrigacionista, uma reestruturação financeira que está em fase de conclusão jurídica, uma nova temporada desportiva de 55 modalidades, onde se inclui o futebol, e onde temos ainda esta época tantos objetivos nacionais e internacionais a cumprir em variadas modalidades”.

“Estes compromissos exigem sentido de responsabilidade, coesão e união”.

"Ato hediondo de terrorismo" em Alcochete "manchou o nome do Sporting e do presidente"

Sobre as agressões em Alcochete, os responsáveis do Sporting dizem esperar “conhecer muito brevemente os autores do ato hediondo de terrorismo, que mais uma vez repudiamos, e que manchou o nome do Sporting, da SAD e do seu presidente”.

Já sobre a alegada vontade de alguns jogadores rescindirem contratos, a direção fala em “manobras” e “especulações”, cujos interesses serão igualmente averiguados

“Se este horrível acontecimento for motivo para rescisão por justa causa, o paradigma do mercado futebolístico, tal como conhecemos hoje, ficaria posto em causa. Tememos que os jogadores, por choque com toda esta situação, possam estar a ser manobrados e enredados em algo que está a tentar desvirtuar o seu profissionalismo”.

Assembleia Geral estava pedida

Numa declaração sem direito a perguntas, Bruno de Carvalho fala ainda de “golpe manobrado desde fora, em conluio com alguns dirigentes dos atuais órgãos sociais”.

O Presidente dos leões disse também que depois da final da Taça de Portugal e do empréstimo obrigacionista a lançar nos próximos dias a direção do clube estará “à disposição dos sócios", tendo, por isso, pedido "o agendamento de uma Assembleia Geral extraordinária para os ouvir sobre tudo aquilo que se tem passado”.

"O Presidente da Mesa da Assembleia Geral [Marta Soares] tinha agendado, como é público, para a próxima segunda-feira, uma reunião com os órgãos sociais do clube. Ontem, toda a Mesa foi convidada a estar na reunião realizada pela direção do clube e comissão executiva da SAD —  convite que foi recusado", afirma Bruno de Carvalho. "Da nossa reunião saiu a vontade de dar a voz aos associados com uma assembleia-geral extraordinária, a qual poderia ser marcada por Jaime Marta Soares no espaço de uma semana”, acrescenta ainda.

“Então, como argumentar que este concelho diretivo quer é ganhar tempo? Como argumentar falta de comunicação entre órgãos quando se recusam a reunir? Como argumentar que sejam melhor demissões do que ouvir os associados? Nos próximos tempos não deixaremos de averiguar a fundo os interesses cruzados que se têm manifestado na vida do clube”, garante Bruno de Carvalho.

Para além de Bruno de Carvalho, falaram ainda Carlos Vieira, responsável pela área financeira e Rui Caeiro, do Conselho Fiscal. A faltar ficou Bruno Mascarenhas, membro do conselho diretivo.

O Conselho Fiscal e Disciplinar do Clube fala de uma “visível falta de sintonia em relação ao Conselho Diretivo do Sporting Clube de Portugal”.

O porta-voz do Conselho Fiscal, presente neste comunicado, acusa os membros deste órgão de “atuarem como um fator de oposição”, com “total falta de solidariedade e deslealdade para com o conselho diretivo e o seu presidente”. De referir que esta tarde o presidente e vários membros do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD) do Sporting apresentaram a demissão e apelaram ao presidente do clube lisboeta, Bruno de Carvalho, e à restante direção que renunciem também aos cargos.

A comunicação foi feita no auditório Artur Agostinho, no Estádio José Alvalade, em Lisboa. Momentos antes do anúncio, o auditório tinha preparadas doze cadeiras, tendo, entretanto três sido retiradas por um dos funcionários de Alvalade. A chegada do presidente do clube estava prevista para as 22:30, porém, só teve início já depois das 23:00, durando pouco mais de dez minutos.

créditos: MadreMedia

Sporting "atacado na sua dignidade"

Já sobre o caso do alegado aliciamento a jogadores adversários, o clube considera ter sido “igualmente atacado na sua dignidade”. “Colocaram em causa vitórias da equipa de futebol, as quais foram conquistadas com todo o mérito nos relvados. Temos o treinador mais bem pago do país. O plantel considerado como o mais valioso, e acusam-nos de comprar jogos”.

“A justiça está a trabalhar, nós estamos a colaborar e aguardamos serenamente e de consciência absolutamente tranquila pelo desfecho deste processo”, diz o clube.

Relativamente às suspeitas de compra de árbitros de andebol, o clube diz que foi colocada em causa “a sua honestidade e seriedade, e com isso o título da época passada”. O Sporting defendeu hoje a capacidade e valor da sua equipa, dizendo-se de “consciência tranquila” face às suspeitas e a “colaborar com a justiça”, aguardando “serenamente” o desfecho das investigações.

Recorde-se que na quarta-feira, após buscas na SAD do Sporting, a Polícia Judiciária (PJ) deteve André Geraldes e os empresários Paulo Silva e João Gonçalves, além de Gonçalo Rodrigues, igualmente funcionário do clube 'leonino', no âmbito da operação ‘Cashball’, que investiga manipulação de resultados.

O diretor para o futebol do Sporting ficou em liberdade mediante pagamento de caução de 60 mil euros.

Dias de crise em Alvalade

A polémica que envolve o Sporting agravou-se nos últimos dias, depois da derrota da equipa de futebol no domingo, no último jogo da I Liga de futebol, frente ao Marítimo, que fez o clube de Alvalade perder o segundo lugar para o Benfica.

Antes do primeiro treino para a final da Taça de Portugal, em que o Sporting defronta o Desportivo das Aves, a equipa de futebol foi atacada na Academia de Alcochete, na terça-feira, por um grupo de cerca de 50 pessoas, que agrediram técnicos e jogadores.

A GNR deteve 23 dos atacantes e as reações de condenação do ataque foram generalizadas e abrangeram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa.

Face às críticas, Bruno de Carvalho negou hoje, em comunicado enviado à Lusa, qualquer responsabilidade pelo ataque na academia, rejeitou demitir-se da presidência do Sporting e anunciou que vai processar Ferro Rodrigues, bem como comentadores e jornalistas por o terem “difamado e caluniado” após os atos de violência em Alcochete.

Entretanto, a Mesa da Assembleia-Geral demitiu-se em bloco, vários membros do Conselho Fiscal e Disciplinar renunciaram aos cargos e parte do Conselho Diretivo também se afastou, enquanto o empresário Álvaro Sobrinho, patrão da Holdimo, detentora de 30% das ações da SAD do Sporting, pediu a demissão da direção.

No final do comunicado desta noite, coube a Bruno de Carvalho a última palavra: “Em conclusão, caras e caros sportinguistas, não nos demitimos a bem do Sporting. Pelas responsabilidades que assumimos, por uma questão de trabalho que urge fazer e não por estarmos agarrados ao poder”.