Na manifestação, que decorreu à entrada da Escola Básica e Secundária Ordem de Sant'Iago, no bairro da Bela Vista, André Pestana, coordenador nacional do Stop, disse que o caso da professora do grupo 910 de Educação Especial que foi alvo de processo disciplinar é um sinal inequívoco da opressão que é feita aos profissionais da educação.
“Esta luta pela educação tem mais de seis meses e estamos a verificar que vários ativistas, nomeadamente delegados sindicais do Stop, que estiveram na linha da frente nesta luta estão a ser perseguidos, intimidados e assediados por diretores”, acusou.
“Neste caso há mais um processo disciplinar, que já tivemos antes em Amarante e Esmoriz, com uma particularidade para que já temos vindo a alertar: As escolas e direções estão cada vez mais partidarizadas e usam-na como plataforma para subir a outros postos políticos neste caso delegado regional de Lisboa e Vale de Tejo, ou seja, o diretor deixou de o ser e passou para um patamar superior porque esteve na primeira linha a intimidar os principais ativistas como é o caso da Alexandra Narra”, disse o dirigente sindical, que esteve entre os quase 100 manifestantes, numa alusão a Pedro Florêncio, ex-diretor do Agrupamento de Escolas Ordem de Sant´Iago, que assumiu recentemente o cargo de Delegado Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo.
A professora de 50 anos que o Stop afirmou ser vítima de “assédio laboral, moral e abuso de poder”, leciona há 25 anos, tendo nos últimos dois anos exercido a profissão no Agrupamento das Escolas Ordem de Sant’Iago, onde, garantiu, foi alvo de “ameaças e humilhações”.
"Sinto que sou perseguida"
“Fui eleita delegada sindical do Stop em janeiro e sinto desde essa altura que sou perseguida, nomeadamente com chamadas à direção, ameaças e humilhações a que alguns colegas meus assistiram. Tive sempre o cuidado de levar uma testemunha comigo. Além disso, no dia 20 de junho fui notificada em casa de que me estava a ser instaurado um processo disciplinar, cujo conteúdo ainda desconheço”, disse.
Alexandra Narra relatou a forma como decorreu uma reunião, em que também estiveram presentes o diretor de turma, a sua coordenadora e outra professora de Educação Especial, durante a qual sentiu ter sido vítima de “abuso de poder” por parte do diretor da Escola:
“Foi-me dito nessa reunião pelo diretor que “quem manda aqui sou eu, eu é que sou o diretor, tu falas quando eu quiser e disser”. Portanto, houve abuso de poder e não posso deixar que isso aconteça a mais nenhum colega e é por isso que estamos aqui hoje, a lutar”, frisou.
A professora não escondeu ter ficado sensibilizada pelo apoio dos seus colegas que marcaram hoje presença em Setúbal, alguns deles vindos de outras regiões do país.
“Sinto que o processo disciplinar que me foi instaurado não é da professora Alexandra Narra, mas de todos os colegas que lutam diariamente nas escolas e que querem a liberdade e democracia. Não queremos voltar a 1973, queremos liberdade, uma escola pública de qualidade, queremos que os encarregados de educação nos ouçam”, afirmou.
“Queremos que o senhor ministro [da Educação], o primeiro-ministro e [o Presidente da República] Marcelo Rebelo de Sousa, a quem já pedimos várias vezes reuniões, nos ouçam e nos deem voz. De uma vez por todas, ouçam o que temos a dizer. As nossas reivindicações vão ter consequências no futuro imediato. Para o ano não vai haver professores, a carreira não é aliciante, os professores são mal pagos, mal tratados e mal vistos. O senhor ministro da Educação tinha de nos ouvir. É de Setúbal e se quiser reunir comigo estou disponível”, terminou.
André Pestana, coordenador nacional do STOP, revelou que os profissionais da Educação estão a ser auscultados para serem definidas novas formas de luta para setembro, mês em que arranca o ano letivo.
“Se for essa a vontade de quem trabalha nas escolas, iremos arrancar o ano letivo como nunca aconteceu antes. Vamos esperar pelo contributo dos nossos colegas e a decisão será conhecida em meados deste mês de julho. Vamos agora começar um processo de auscultação democrático como é nosso paradigma. Depois, a seu devido tempo, iremos anunciar quais são as medidas de luta que os colegas, desde assistentes operacionais e técnicos e docentes, decidiram. A história demonstra que a luta é que pode conseguir transformar a vida”, disse.
Ataque ao carro do ministro:“Ficámos perplexos com a entrevista"
Sobre as declarações do ministro da Educação, João Costa, de que foi alvo de um ataque “com alguma violência” em Faro, com murros e pontapés ao carro onde seguia, o coordenador do Stop demarcou o Sindicato do sucedido.
“Ficámos perplexos com a entrevista em que refere 1001 casos e até fala da situação do carro dele que terá sido alvo de um pequeno grupo de pessoas, não sei se professores ou profissionais da educação ou não. O ministro preferiu casos e 'casinhos' não se referindo às mobilizações, mas a situações que nós condenamos e de que o Stop se demarca completamente", disse.
A Lusa tentou obter esclarecimentos da direção do Agrupamento de Escolas da Ordem de Sant’Iago, sobre o processo disciplinar que deu origem ao protesto de hoje, mas não foi possível por estarem a decorrer reuniões na escola.
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