“Curiosamente, este ano, refletindo algumas tendências que temos visto noutros países, as substâncias são maioritariamente o esperado e com pouca adulteração, ao contrário daquilo que se passou no mesmo festival no ano passado, em que havia muitas substâncias adulteradas”, afirmou a coordenadora da equipa do Porto do projeto de promoção da saúde e segurança ‘CHECK!N’, da organização sem fins lucrativos APDES, em declarações à agência Lusa.
Segundo Joana Pereira, se em 2017, no Neopop, “metade das amostras de cocaína analisadas não tinham cocaína nenhuma”, este ano “isso não está a acontecer, refletindo dados de outras equipas noutros países”.
As análises são feitas às amostras entregues pelos festivaleiros no espaço da APDES no recinto do Neopop, tendo até agora sido analisadas 55 amostras, sobretudo de MDMA (‘ecstasy’), seguido de cocaína e de “algumas anfetaminas”.
De acordo com Joana Pereira, as amostras testadas “apresentavam adulteração, mas menos do que o normal”, sendo disso exemplo as análises às amostras de MDMA, onde “é muito frequente encontrar cafeína”, o que não aconteceu este ano.
No entanto, ressalvou, o método de análise “só permite obter informação qualitativa sobre a amostra”, ou seja, “precisa a composição da amostra em detalhe, mas não dá informações sobre a pureza ou a concentração”.
Depois de um contratempo técnico ter impossibilitado a recolha de amostras na primeira noite do Neopop, na quarta-feira, a equipa da APDES tem feito “entre 25 a 30 análises por noite” e espera atingir os 80 testes no final do evento, hoje à noite.
Segundo Joana Pereira, o objetivo desta intervenção da APDES em festivais como o Neopop “não é nem dissuadir nem promover o comportamento, mas simplesmente fazer com que a escolha seja mais informada”.
“Nós acreditamos nas pessoas como autodeterminadas e capazes de fazerem as suas escolhas. Com o ‘drug checking’, o que fazemos é devolver informação objetiva e imparcial à pessoa, com um pequeno aconselhamento pré e pós teste, passando informação no sentido de que ‘isto é o que tem a tua amostra, se escolheres usar tem em atenção que está presente esta substância que tem estes efeitos e que, por isso, deves adaptar o teu uso desta maneira ou daquela’”, explicou.
Após disponibilizar ‘drug checking’ em várias edições do Boom Festival (Idanha-a-Nova) e do Neopop (Viana do Castelo), a APDES diz estar “neste momento a lutar por financiamento para ter o serviço disponível fora dos contextos festivos”, nomeadamente com a criação de um “espaço em permanência, em Lisboa ou no Porto, onde as pessoas possam deixar as suas amostras”.
O objetivo, sustenta Joana Pereira, é “democratizar o serviço, porque as pessoas não usam só drogas em festas” e “oferecer este serviço em festivais como o Boom e o Neopop é oferecê-lo a uma muito pequena parte da população que usa drogas”.
Neste sentido, esteve recentemente a circular uma petição dirigida ao presidente da Assembleia da República e ao Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências em defesa de um serviço de ‘drug checking’ em Portugal, que juntou “cerca de 800 assinaturas”.
Segundo se lê no texto da petição, “o ‘drug checking’ é um serviço integrado para pessoas utilizadoras de substâncias psicoativas que engloba a análise laboratorial das substâncias em questão e o aconselhamento por parte de profissionais especializados”, tendo “um papel de particular relevância na intervenção de redução de riscos” e “estando contemplado na estratégia portuguesa de política de drogas”.
“A disponibilização deste serviço impulsiona a criação de canais de comunicação, particularmente com pessoas utilizadoras que não são abrangidas pelos serviços formais de saúde”, sustenta o texto, apontando-o como “uma ferramenta importante para recolher informação sobre práticas e padrões de consumo, com vista a um aconselhamento adaptado para usos de menor risco”.
Comentários