"Não quero falar", disse a arguida, de 50 anos, que começou hoje a ser julgada na Instância Central Criminal do Porto pela prática dos crimes de peculato, falsidade informática e simulação de crime.

Segundo o Ministério Público (MP), os factos ocorreram em 2014 e 2015, envolvendo verbas de inscrições e propinas dos alunos da instituição e de consultas de Medicina Dentária feitas na clínica daquele estabelecimento de ensino, que a ex-tesoureira alegadamente desvio e simulou o roubo de parte dos 144 mil euros que não devolveu.

Presente na sessão, o antigo reitor da Universidade do Porto Sebastião Feyo de Azevedo afirmou que "teve conhecimento de que havia o desaparecimento de verbas" na ordem dos 75 a 77 mil euros através dos serviços académicos, e que, consequentemente, houve um processo de "penalização" do qual resultou a suspensão da arguida durante "seis a sete meses".

o atual diretor da faculdade, Miguel Fernando da Silva Gonçalves Pinto, afirmou esta manhã em tribunal que no dia 22 de abril 2015 desapareceu de “cima da secretária da funcionária uma pasta com cerca de 77 mil euros".

"No dia do furto, dirigi-me à PSP e quando cheguei à faculdade falei com as funcionarias, que disseram que tinham desaparecido 77 mil euros", frisou.

O diretor explicou que a ex-tesoureira era responsável por receber e administrar as verbas das consultas da clínica e as propinas dos estudantes, questão que deixou de ser supervisionada pela direção em 2013, passando na altura a ser monitorizada pelos serviços partilhados da Universidade do Porto (serviços de recursos humanos, financeiros e jurídicos).

Miguel Pinto afirmou ao coletivo de juízes que, quando começou a exercer funções como diretor da instituição, em dezembro de 2014, "não havia dinheiro nas contas bancárias da faculdade para pagar os vencimentos dos funcionários" e que, por isso, teve de contrair um empréstimo à Universidade do Porto no valor de 250 mil euros, que terá sido pago "nos 11 meses seguintes".

O diretor acrescentou também que, aquando do alegado furto, eram três os funcionários responsáveis pelos serviços de contabilidade e tesouraria da instituição, e que atualmente "apenas uma pessoa é responsável por essas funções".

Também na sessão compareceu um dos responsáveis pela tesouraria dos serviços partilhados da Universidade do Porto que afirmou que apenas "em meados de janeiro e fevereiro de 2015", aquando da realização de "reconciliações bancárias", se apercebeu que "estavam em falta depósitos que tinham sido registados no programa de contabilidade da tesouraria".

No entanto, só depois do furto é que o responsável concluiu que relativamente a 2014 estavam em falta "verbas no valor de cinco mil e tal euros na conta da tesouraria destinada às verbas das propinas, três mil e tal euros em cheque e 1.900 euros em numerário", e ainda "64 mil euros na conta onde eram depositadas as verbas da clínica".

O responsável adiantou que o valor em falta foi liquidado "durante os primeiros meses" de 2015.

Questionado pelo presidente do coletivo de juízes se não tinha perguntado à arguida o "porquê da pasta desaparecida conter tanto dinheiro", o responsável afirmou que, no dia seguinte, esta lhe respondeu que "o dinheiro se destinava ao pagamento de descontos do pessoal".

A sessão de início de julgamento vai prosseguir durante a tarde, retomando às 14:00, para ouvir as restantes testemunhas.