No início da audiência, Abdeslam, agora de barba e cabelo comprido, recusou mesmo levantar-se no início do interrogatório perante a juíza que preside à sessão, e anunciou desde logo que não iria responder a quaisquer questões, delegando a sua defesa no seu advogado.

“O meu silêncio não faz de mim um criminoso, é a minha defesa”, argumentou Abdeslam, que também tem recusado colaborar com as autoridades em França, onde se encontra detido para ser julgado pelo seu envolvimento nos mais mortíferos atentados cometidos em solo francês, em 13 de novembro de 2015, que provocaram 130 mortos.

No Palácio de Justiça de Bruxelas, rodeado de medidas extremas de segurança Abdeslam fez várias referências à sua religião, o Islão, e lançou críticas ao sistema de Justiça, afirmando que “os muçulmanos são julgados e tratados da pior forma” e não beneficiam do princípio de presunção de inocência.

O processo que hoje começou, que deverá desenrolar-se ao longo de quatro dias – até sexta-feira, com uma pausa na quarta -, relaciona-se com a presumível participação de Abdeslam num tiroteio com a polícia na capital belga em 15 de março de 2016, três dias antes de ser finalmente capturado na tristemente famosa comuna de Molenbeek.

Efusivamente celebrada na ocasião, a detenção de Salah Abdeslam foi, todavia, seguida, poucos dias depois, em 22 de março, pelos atentados suicidas na capital belga, no aeroporto internacional de Zaventem e na estação de metro de Maalbeek, que fizeram 35 mortos, e que as autoridades pensam terem sido precipitados pela captura daquele que era o homem mais procurado desde os ataques de Paris.

No Palácio de Justiça de Bruxelas, Abdeslam, juntamente com um suposto cúmplice, Sofiane Ayari, responde às acusações de “tentativa de homicídio de diversos agentes policiais” e “porte de arma ilegal”, tudo “num contexto terrorista”, incorrendo ambos em penas que podem chegar aos 40 anos de prisão.

O julgamento arrancou com um interrogatório a Sofiane Ayari, tunisino de 24 anos igualmente envolvido no tiroteio, no qual foi morto um terceiro cúmplice, o argelino Mohamed Belkaid.

Ayari respondeu parcialmente a algumas perguntas sobre as suas diferentes identidades, a sua escolarização em Tunes, o envolvimento religioso em que foi educado desde criança e disse que não se considera “um radical” no modo como encara a religião.

Apesar das insistências do tribunal, Ayari recusou responder se apoia os atentados terroristas fora do território sírio.

Sobre o tiroteio em causa, assegurou que não disparou e disse não ter visto Abdeslam fazê-lo.

O único que disparou contra a polícia, segundo o seu relato, foi o falecido Mohamed Belkaid, apesar de os peritos terem estabelecido que os presumíveis terroristas utilizaram pelo menos duas armas.

De acordo com a Procuradoria federal belga, os atentados de Paris e os de Bruxelas, bem como o ataque gorado no comboio de alta velocidade Thalys entre Amesterdão e Paris, em agosto de 2015, estão relacionados e resultam “provavelmente de uma única operação” do grupo terrorista autoproclamado Estado Islâmico.

Filho de pais marroquinos, Salah Abdeslam é o recluso mais vigiado em França, onde se encontra detido no estabelecimento prisional de Fleury-Mérogis, a sul de Paris.

Em 15 de março de 2016, durante uma rotineira operação de buscas num dos apartamentos bruxelenses utilizados pela célula terrorista, na comuna de Forest, um jihadista argelino, Mohamed Belkaid, foi abatido, tendo, no entanto, dado cobertura à fuga de Abdeslam – cujas impressões digitais foram descobertas na casa – e de um cúmplice, o tunisino Ayari, também agora julgado, e que, ao contrário de Abdeslam, aceitou hoje responder às questões, confirmando a sua presença no apartamento.

Os dois jihadistas foram detidos três dias mais tarde, em Molenbeek, pondo fim a uma longa “caça ao homem”, já que Abdeslam era o suspeito mais procurado em solo europeu desde os atentados de 13 de novembro de 2015, onde terá desempenhado um papel importante.

Abdeslam é suspeito de ter desempenhado um papel fundamental nos preparativos dos ataques mais mortíferos alguma vez cometidos em França, ao alugar os carros utilizados nos atentados, os apartamentos utilizados pelos elementos da célula terrorista, e ao transportar membros desta através da Europa.

Na noite de 13 de novembro, também transportava um cinto de explosivos, desconhecendo-se ainda se não se fez explodir por problema técnico ou por ter mudado de ideias, mas esse julgamento terá lugar em França, depois do processo em Bruxelas.

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