“Estão todos perdoados”, afirmou Zabihullah Mujahid, em conferência de imprensa hoje realizada em Cabul, insistindo que não haverá vingança mesmo para aqueles que colaboraram com o Governo anterior ou com as forças estrangeiras nos últimos 20 anos.
“Garantimos que ninguém vai bater à porta de ninguém para perguntar por que ajudou” o anterior Governo ou as forças estrangeiras, disse.
O porta-voz assegurou também que os direitos das mulheres “serão honrados pela lei islâmica”, tema que constitui uma das maiores preocupações da comunidade internacional, já que, quando ocuparam o poder, entre 1996 e 2001, os talibãs restringiram severamente a vida das mulheres e meninas, proibindo-as de estudar, trabalhar, conduzir ou andar na rua desacompanhadas.
O discurso de Mujahid incluiu ainda a promessa de que os órgãos de comunicação social privados “irão manter-se independentes”, embora tenha sublinhado que os jornalistas “não devem trabalhar contra os valores nacionais”.
Além disso, adiantou o porta-voz, o Afeganistão “não irá abrigar no país ninguém que queira atacar outras nações” — numa referência ao facto de o país ter sido considerado um santuário de grupos terroristas até 2001 -, lembrando que essa foi uma exigência do acordo firmado com a administração Trump, em 2020, e que levou à retirada dos efetivos militares dos Estados Unidos e da NATO.
O movimento fundamentalista já tinha declarado anteriormente uma “amnistia geral” para todo o Afeganistão e pedido às mulheres que se juntassem ao futuro governo, numa tentativa de convencer a população de que os líderes talibãs mudaram e de acalmar o caos que tomou conta da capital e, sobretudo, do aeroporto de Cabul, onde milhares de pessoas desesperadas tentaram fugir do país, na segunda-feira, depois de os talibãs declararem vitória.
Apesar das promessas, a maioria da população mantém-se cética, com as gerações mais velhas a recordarem nitidamente o ultraconservadorismo islâmico defendido pelos talibãs nos anos 1990, incluindo as severas restrições às mulheres, os apedrejamentos e amputações públicas e o isolamento em relação ao resto do mundo.
Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Cabul amanheceu hoje mais calma, com os talibãs a patrulhar as ruas e muitos residentes fechados nas suas casas, receosos do que serão os próximos dias e das consequências de um dos primeiros atos dos talibãs no poder: abrir as portas das prisões e permitir saques nas cidades.
Muitas mulheres expressaram já o medo de que a experiência ocidental das últimas duas décadas e a expansão dos seus direitos não sobreviva ao ressurgimento dos talibãs.
Entretanto, a Alemanha anunciou ter suspendido a ajuda ao desenvolvimento do país devido à tomada de poder pelos talibãs.
Como esta é uma receita crucial para a economia do Afeganistão, alguns observadores internacionais já avançaram com a hipótese de os esforços dos talibãs para projetar uma versão mais branda de si mesmos poder ter como objetivo garantir que o financiamento alemão volte a fluir.
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