De acordo com testemunhas locais, milhares de combatentes talibãs irromperam em oito distritos de Panjshir durante a noite, enquanto o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid confirmava que a província, situada a norte da capital, estava agora sob o controlo das suas forças.
“Tentámos o possível para resolver o problema através de negociações, mas eles rejeitaram as conversações e tivemos de enviar as nossas forças para combater”, indicou Mujahid no final da tarde de hoje, durante uma conferência de imprensa em Cabul.
Esta região permanecia o último foco de resistência face aos talibãs desde a tomada de Cabul pelos insurgentes em 15 de agosto, e o anúncio da sua queda foi emitido no mesmo dia em que asseguravam a formação de um Governo interino “para breve”, que ainda não foi formalizado devido a “problemas técnicos”.
Nos últimos dias foram registados intensos combates entre os insurgentes e forças da oposição em torno da única das 34 províncias afegãs que não tinha caído em poder dos “estudantes de teologia”, uma resistência dirigida pelo ex-Presidente afegão Amrullah Saleh — autoproclamado novo presidente do Afeganistão após a fuga do país do ex-chefe de Estado, Ashraf Ghani, durante a tomada de Cabul — e Ahmad Massoud, filho do defunto comandante afegão Ahmad Shah Massoud, “o leão de Panjshir”, que se tornou uma lenda por ter enfrentado as forças soviéticas na década de 1980 e os talibãs nos anos 1990.
“A última fortaleza do inimigo mercenário, a província de Panjshir, foi completamente conquistada” e permanece “sob controlo total do Emirado islâmico [como se autodenominam os talibãs]” prosseguiu Zabihullah Mujahid.
O porta-voz assegurou que “alguns dos rebeldes da província foram derrotados e os restantes fugiram” e considerou que, “com este último esforço e vitória, o país emergiu completamente do turbilhão da guerra”.
“As pessoas querem uma vida pacífica e próspera num ambiente de liberdade, independência e prosperidade”, acrescentou.
Mujahid precisou que “um grande número de forças inimigas e comandantes morreram em Panjshir e alguns foram forçados a esconder-se nas montanhas”, mas admitiu ainda não se saber “quem dos seus comandantes morreu e quem fugiu”.
No entanto, a Frente Nacional de Resistência (NRF), o grupo opositor que combate os talibãs em Panjshir, desmentiu a conquista da região pelos insurgentes.
“A afirmação dos talibãs de que ocuparam Panjshir é falsa. As forças da NRF estão presentes em todas as posições estratégicas do vale para prosseguir a luta”, disse o movimento, num breve comunicado pouco após os talibãs terem assegurado o controlo do território.
“Asseguramos ao povo afegão que a luta contra os talibãs e aliados prosseguirá até que prevaleça a justiça e a liberdade”, acrescentou o grupo numa mensagem divulgada nas redes sociais.
Neste contexto, Massoud apelou hoje a um levantamento em todo o Afeganistão contra os talibãs, através das armas ou de manifestações de protesto.
“Onde quer que estejais, quer dentro quer fora do país, pedimos que vos levanteis em resistência pela dignidade, integridade e liberdade do nosso país”, disse Massoud, numa mensagem áudio divulgada nas páginas oficiais da NRF no Facebook e Twitter.
As forças talibãs entraram em Cabul em 15 de agosto, mas ainda não formaram um Governo oficial.
O principal porta-voz dos talibãs anunciou hoje que o novo executivo “será anunciado em breve”, na forma de um Governo interino.
“Será um Governo em funções, como um Governo interino, ainda não podemos confirmar, mas de acordo com a informação inicial será um Governo interino”, disse Mujahid.
O mesmo responsável considerou ainda “muito cedo” para decidir se os talibãs permitirão eleições no Afeganistão, após os talibãs terem anunciado ainda hoje a proibição das manifestações anunciadas no leste do país em apoio à bandeira tricolor afegã.
Mujahid também reiterou a intenção do novo poder em manter boas relações com a comunidade internacional e manifestou-se particularmente próximo da China.
“A China é o nosso país amigo, que nos ajudou muito, e pedimos que nos ajudem, que cooperem connosco. Também solicitamos ao Governo da China que reconheça oficialmente o nosso Governo e mantenha relações diplomáticas connosco”, frisou.
De acordo com o porta-voz, os talibãs estão dispostos a oferecer a sua “cooperação e apoio total para a segurança” dos projetos económicos da China na região.
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