“Não houve discussão do comunicado, houve uma sugestão do diretor nacional da PJM para que o gabinete do ministro fizesse um comunicado, ao que nós dissemos que teria de ser ou a Procuradoria-Geral da República, ou o Ministério Público ou a PJM”, disse o tenente-general Martins Pereira.
O militar acrescentou que na altura, na manhã da recuperação do material furtado, em 18 de outubro de 2017, sugeriu que, “se houvesse necessidade”, o assessor de comunicação poderia “tecnicamente apoiar a feitura do comunicado”.
Ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, Martins Pereira contrariou assim a versão contada na quarta-feira na mesma comissão pelo ex-diretor da PJM, coronel Luís Vieira, que disse que recebeu “ordens” do então ministro da Defesa Azeredo Lopes para que a PJM fizesse o comunicado “em cooperação com o assessor de imprensa do gabinete”.
Martins Pereira referiu que “o ministro numa coisa destas não tinha de decidir” porque a “dependência funcional da PJM era da PGR”.
“O ministro apenas disponibilizou apoio técnico se houvesse dificuldade. A decisão seria sempre do diretor da PJM, não há propriamente uma decisão tomada”, disse Martins Pereira.
No comunicado divulgado no dia 18 de outubro de 2017, a PJM anunciou que, "no âmbito de investigações de combate ao tráfico e comércio ilícito" de material de guerra, recuperou durante a madrugada "na região da Chamusca, com a colaboração do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé, o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos”.
Na audição, que durou cerca de cinco horas, Martins Pereira foi confrontado pelo deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro com as declarações de Azeredo Lopes numa audição na comissão de Defesa Nacional, em 2017, segundo as quais, afirmou, o ex-ministro terá dito que soube da recuperação do material furtado "pelo comunicado da PJM".
"Quando o ministro diz que sabe ‘a posteriori’, e que não dá instruções à PJM, o que constatamos é que isto não é verdade", assinalou António Carlos Monteiro.
Questionado pelo PS sobre o teor de uma alegada conversa entre o coronel Luís Vieira e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 4 de julho em Tancos, um dia após o despacho da ex-procuradora Geral da República Joana Marques Vidal a determinar a direção do inquérito para a Polícia Judiciária (PJ) civil, Martins Pereira afirmou que “não se apercebeu” em concreto.
“Todos os que estavam naquela sala perceberam que efetivamente o diretor da PJM não estava contente com a possível atribuição à PJ”, declarou, frisando que não consegue identificar que “ações ficaram definidas”.
“Que houve a ideia que podia ter sido alguma ação no sentido da sensibilização, talvez, não ficou uma definição de tarefas. Estava barulho e quente na sala. Não estava muito próximo. Não me apercebi se isso foi feito”, respondeu.
Luís Vieira tinha afirmado na quarta-feira que o Presidente da República se disponibilizou a falar com Joana Marques Vidal, o que Marcelo Rebelo de Sousa já negou.
Hoje, o Presidente da República afirmou que não chegou a falar com o ex-diretor da PJM no dia em que visitou Tancos.
“O que se passou foi tão simples quanto isto. No fim da visita que fiz a Tancos, o senhor ministro da Defesa chamou para perto de mim o senhor, então, diretor da Polícia Judiciária Militar, e disse ‘olhe, eu gostava de falar consigo’”, começou por contar Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que “nunca aconteceu isso, até hoje”.
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