Os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal referem que a inquirição do deputado carece de autorização do presidente da Assembleia da República e que a requerem para o ouvir a propósito da troca de mensagens escritas (SMS) com Azeredo Lopes, no dia da recuperação do armamento, a 18 de outubro de 2017.
“Tiago Barbosa Ribeiro, deputado, inquirição cuja autorização deve ser requerida ao Presidente da Assembleia da República, o que se requer”, lê-se no despacho de acusação do caso de Tancos.
No documento é indicado que às 15:51, de 18 de outubro de 2017, Tiago Barbosa Ribeiro enviou um SMS para Azeredo Lopes a dizer “Parabéns pela recuperação do armamento, grande alivio,..! Não te quis chatear hoje”.
A resposta do ex-ministro da Defesa chegou às 15:53 do mesmo dia, também por SMS, na qual Azeredo Lopes confessa que “foi bom: pela primeira vez se recuperou armamento furtado. Eu sabia, mas tive que aguentar calado a porrada que levei. Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje”.
De imediato, o deputado socialista pergunta ao governante se iria à Assembleia da República explicar ao que Azeredo Lopes lhe respondeu que sim, mas que não poderia dizer o que lhe estava a contar e que tinha sido uma “bomba”.
Quando respondeu perante a comissão parlamentar de inquérito ao furto do material militar de Tancos, a 07 de maio, Azeredo Lopes disse ter sido “informado do essencial” do documento no dia 20 de outubro de 2018 pelo seu ex-chefe de gabinete, general Martins Pereira, dois dias depois da recuperação do material furtado.
“O que me foi transmitido, ou nesse dia ou no dia a seguir, era que havia um informador que não podia ser identificado e que, essencialmente, o que se tinha pedido era que estivesse alguém na margem sul para receber um telefonema com indicação do local onde se encontravam as armas”, relatou.
Azeredo Lopes, que se demitiu do cargo a 12 de outubro do ano passado, foi hoje acusado de denegação de justiça, prevaricação, abuso de poder e favorecimento pessoal de funcionário.
O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017.
Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
O MP acusou hoje 23 pessoas, entre elas o ex-ministro da Defesa no caso do furto e da recuperação das armas. Os arguidos são acusados de terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
O caso abalou as forças armadas, levou à demissão de Azeredo Lopes em 2018 e a polémica em torno do furto, tornado público pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, subiu de tom depois da, aparente, recuperação do material na região da Chamusca, no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação da Polícia Judiciária Militar (PJM).
Nove dos 23 arguidos são acusados de planear e executar o furto e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
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