Em declarações à Lusa, o líder parlamentar social-democrata, Fernando Negrão afirmou que, “além das responsabilidades de natureza judicial e criminal”, que estão a ser investigadas, “existem também responsabilidade por parte do Estado e dos órgãos do Estado”.

“E nós precisamos de saber por que razão estas coisas aconteceram, por que razão acontecimentos graves que envolvem o exército, forças de segurança aconteceram em Portugal”, afirmou.

Para Negrão, o parlamento poderá ficar a saber o que aconteceu através de atividade da comissão parlamentar de inquérito, que dá poderes que as comissões permanentes não dão, e das audições a efetuar.

Legalmente, uma comissão de inquérito tem “poderes de investigação das autoridades judiciais que a estas não estejam constitucionalmente reservados”.

O texto da proposta do CDS, acrescentou Fernando Negrão, “deixa margem grande” de se “poder alargar um conjunto de questões aos setores que tiveram intervenção” neste caso.

O PS, partido do Governo, não se opõe à comissão, e, à esquerda, o PCP tem a mesma posição, embora preferisse esperar pela conclusão do inquérito judicial em curso, enquanto o Bloco de Esquerda já disse tratar-se de um caso de “oportunismo político” e que também preferia agir após o fim do inquérito.

O CDS-PP entrega hoje, na Assembleia da República, a proposta de comissão parlamentar de inquérito ao furto de armas em Tancos para apurar responsabilidades políticas do Governo, quem falhou e porque falharam as medidas de segurança.

No texto, a que a Lusa teve acesso, os centristas delimitam a investigação ao período de junho de 2017, quando foi conhecido o furto do armamento, até ao momento de hoje, com o “objetivo de identificar e avaliar os factos, os atos e as omissões” do Governo em todo o processo.

No projeto de resolução, o CDS acusa o Governo de, “numa primeira fase, desvalorizar o sucedido”, depois alegar “desconhecimento e tentar “precipitadamente encerrar o problema, sem retirar as devidas consequências”.

Desde julho, os centristas já defenderam a demissão quer do ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, e do Chefe de Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, de quem dependem os paióis militares.

O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições, tendo sido anunciada a sua recuperação em outubro, na Chamusca, distrito de Santarém.