"Reafirmamos, este ministro está a mais no Governo, provou-o claramente nesta intervenção que teve e ficámos com a noção de que o general CEME [Chefe do Estado-Maior do Exército] também não tem condições neste momento para exercer as funções em que está", disse o deputado João Rebelo, em declarações aos jornalistas no final da audição parlamentar ao ministro da Defesa, Azeredo Lopes.

Na audição, Azeredo Lopes já tinha rejeitado demitir-se e afirmou: "ai de nós se começamos a fechar o conceito de responsabilidade política no conceito de decapitação, reduzindo-o á expressão de quem renuncia ao cargo porque entende que não tem condições".

"Se esse momento chegar, espero que não aconteça, tenho uma profissão, tenho uma vida e vai haver vida depois", disse.

João Rebelo considerou que o ministro entrou em contradição ao ter afirmado primeiro que não foi informado de nenhum risco de segurança quanto aos paióis do Exército e, num segundo momento, ter admitido conhecer a diretiva do general Rovisco Duarte para a recuperação de instalações militares em degradação.

"Temos um ministro que não se responsabiliza, que não tem a mínima noção do que se passa nas Forças Armadas. Que diz que está tudo bem, que `não sou responsável por nada, não sabia de nada´", lamentou.

O deputado do PSD Costa Neves acusou o ministro de ter feito uma desvalorização do furto e perguntou ao ministro se tem alguma informação "da área judicial ou da área das informações quanto a eventuais ameaças do que acabou por acontecer". "Os rumores são muitos", disse. Azeredo Lopes respondeu, no final da audição: "não".

O ministro tinha aliás começado a sua intervenção na audição a afirmar que não teve qualquer relatório, pedido, informação ou chamada de atenção que identificasse uma situação grave de insegurança nos paióis.

As explicações não convenceram o deputado do PSD Bruno Vitorino que defendeu que o ministro "devia pedir desculpa e garantir que não vai voltar a acontecer".

"Devia ter ido a Tancos e não a reboque do Presidente da República", criticou, com Azeredo Lopes a referir que a visita foi combinada com Marcelo Rebelo de Sousa.

O PSD questionou se o Exército tem ou não os meios necessários para cumprir as suas missões, referindo "torres de vigia vazias", redes a necessitar de substituição, "rondas mal feitas e insuficientes".

"Falharam todos e o senhor ministro é o rosto político do que aconteceu", disse.

Azeredo Lopes rejeitou a ideia de que tenha sido qualquer desinvestimento, cativações orçamentais ou falta de efetivos a justificar as falhas na segurança dos paióis: "Em nenhuma circunstancia, a questão do desinvestimento, efetivos, ou cativações eu aceito que uma prioridade tão básica como a proteção de material militar seja justificada com desinvestimento em efetivos", afirmou.

Na audição, o ministro da Defesa revelou o valor do material roubado, 34,4 mil euros, comparando-o com os 500 milhões de dólares de um roubo de material militar numa base dos EUA há uns anos.

Pelo PS, o deputado José Miguel Medeiros defendeu a atuação do ministro da Defesa e do CEME neste caso afirmando que "não desertaram".

O deputado João Vasconcelos, do BE, questionou Azeredo Lopes sobre o sistema de videovigilância de Tancos, afirmando que estava inoperacional desde 2012.

Para Azeredo Lopes, "se havia essa deficiência, ela não podia ser ignorada por quem tinha a missão de exercer a proteção daquele armamento".

O governante frisou no entanto que "antes de haver videovigilância também havia proteção e vigilância de paióis", considerando que as avarias não justificam "o que quer que seja".

Azeredo Lopes anunciou ainda que garantiu ao Exército que "o governo reforçará a verba [para além dos 95 mil euros previstos na lei de programação] para a instalação "plena" do sistema de vigilância e controlo (SICAVE) "caso seja necessário".

O ministro admitiu o recurso à segurança privada por parte das Forças Armadas, uma situação que acontece desde 2009 e que tem "uma expressão residual" visando o "controlo de acessos e verificação de identidades" em instalações de natureza não operacional.

"Não há civis armados ou com acesso a armamento em instalações militares", disse.

Pelo PCP, o deputado Jorge Machado defendeu que não se pode dissociar o furto de material militar das "opções de investimento" que foram feitas ao longo dos anos, privilegiando as forças nacionais destacadas e "destapando" as necessidades nas instalações no território nacional.

"A questão é que a manta é curta e ela não estica. Se privilegiamos as prioridades NATO, depois fica a descoberto a defesa daquilo que é a nossa soberania territorial. O que aconteceu em Tancos é também consequência destas posições", disse.