À chegada a uma adega na Vidigueira, em Beja, Rui Rio foi questionado como via o envolvimento no caso Tancos do nome do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já veio publicamente rejeitá-lo e dizer que "não é criminoso".

“Envolvimento do Presidente da República não vejo nenhum”, começou por dizer Rui Rio.

Questionado sobre as notícias em que o chefe de Estado aparece no âmbito deste processo, o líder do PSD defendeu que é preciso “muito cuidado” ao envolver o nome de qualquer Presidente da República em processos judiciais.

“Eu acho que é leviano envolver o Presidente da República numa polémica destas, não o devemos fazer”, vincou.

Na mesma ocasião, o líder do PSD foi questionado sobre o alerta que lançou, na terça-feira em Faro, de que o Governo estaria a preparar uma “nova encenação”, sem especificar a que se referia, o que voltou a fazer hoje.

“O líder do PS já nos habituou em momentos especiais dar um espetáculo, tentando dramatizar a situação – fê-lo com os professores, fê-lo com os motoristas de matérias perigosas - e agora, como as coisas não estão a correr de feição, estou à espera que montem uma encenação qualquer, mais dia menos dia”, afirmou.

Depois de ter sido mais taxativo na terça-feira, Rio disse hoje não poder saber do que se trata, embora admitindo que o seu alerta possa ter sido lido como alusivo ao caso Tancos, não rejeitando que possa existir uma encenação neste setor.

“Pelas notícias que têm aparecido, dá a ideia que também seria uma encenação e uma montagem. Vamos esperar por essa acusação para que publicamente se saiba como é, se assim for é mais uma”, disse, recusando ter informações privilegiadas sobre o caso.

“É notório que há um tique político no PS de, quando as coisas não estão a correr da melhor da maneira, ele faz um número. Será normal se nos próximos dias vier a fazer uma coisa destas”, insistiu.

Na terça-feira, em Nova Iorque, o Presidente da República reiterou nunca ter sido informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, e sublinhou que "é bom que fique claro" que "não é criminoso".

"Espero que seja a última vez que falo sobre a matéria, até porque se aguarda a todo o momento a acusação, no caso de ela existir, e o que haja a investigar contra quem quer que seja, sem qualquer limitação, seja investigado", afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que se trata dos "mesmos factos, os mesmos elementos", de "há três ou quatro meses, que são reapresentados".

A TVI noticiou nesse dia que o major da PJ Militar Vasco Brazão se referiu, numa escuta telefónica, ao Presidente da República, como o "papagaio-mor do reino", que, segundo ele, sabia de tudo.

Em declarações à TVI, o advogado de Vasco Brazão, Ricardo Sá Fernandes, afirmou que tal afirmação "não teve em mente atingir o sr. Presidente da República".

O furto de armas de guerra nos paióis de Tancos foi divulgado em 29 de junho de 2017.

Um dos arguidos do processo é o ex-ministro da Defesa Nacional José Azeredo Lopes, que está proibido de contactar com os outros arguidos, com o seu ex-chefe de gabinete e com o antigo chefe de Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte.

Quase três meses após a divulgação do furto das armas, a Polícia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial, por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas e terrorismo no furto do armamento e durante a qual foram detidos o agora ex-diretor da PJM Luís Vieira e o antigo porta-voz da PJM Vasco Brazão e três militares da GNR, num total de oito militares.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.