“Os portugueses têm assistido nos últimos dias à divulgação de informações sobre os salários dos pilotos da TAP que não têm suporte factual e assentam em dados cuja base de comparação não é idêntica”, lê-se na mesma nota, que diz tratar-se de “uma verdadeira campanha de desinformação que tem como único objetivo transferir para os pilotos o ónus dos maus resultados da TAP e desviar a atenção dos reais motivos que levaram o grupo TAP SGPS à atual situação”.
O SPAC critica depois “as intervenções públicas do senhor ministro das Infraestruturas e Habitação” e as “informações divulgadas pelo Ministério”, que, defende, “têm estimulado esta campanha de desinformação que em nada contribui para a credibilidade e estabilidade da TAP”.
No mesmo comunicado, o SPAC faz a sua própria comparação com os salários de algumas congéneres europeias, referindo que, “quando se comparam os salários entre pilotos de várias companhias aéreas, deve existir uma base idêntica”, com indicadores comparáveis, algo que o sindicato diz não estar a acontecer “não mostrando, por isso, a verdadeira situação existente entre os pilotos das várias companhias”.
Em causa estão os vencimentos dos pilotos da TAP, Iberia, da Air Europa e da Air France, compilados pelo SPAC e pelo Governo.
“Numa análise sumária aos valores apresentados para a Iberia e Air Europa (facultados pelo Ministério na sua comparação) constata-se logo a total incongruência dos mesmos”, garante o SPAC, apontando que “um oficial piloto de A330 com 10 anos ganha mais do que um comandante de A320 com 10 anos. Ora, um piloto é promovido a comandante a partir da categoria de oficial piloto, nunca ficando a ganhar menos com a promoção”, assegura a estrutura sindical.
Além disso, os pilotos “estranham que os dados vindos a público nos últimos dias não comparem os salários da TAP com os de outras concorrentes em destinos tão relevantes como a Alemanha (Lufthansa) ou Reino Unido (British Airways)” e que não seja considerado “que o ‘hub’ da TAP concorre com os ‘hub’ destas companhias, designadamente para o Brasil e Estados Unidos da América, nem nos voos para África”, apontando que, nestes casos, os vencimentos dos pilotos são “significativamente superiores aos praticados na TAP”.
Os pilotos voltaram a referir que o custo associado a estes profissionais em 2018 e 2019 foi “significativamente agravado por recurso a trabalho extraordinário a pedido da empresa”, dada a falta de pilotos para os voos efetuados nesse período.
“O trabalho extraordinário dos pilotos da TAP permitiu que, em 2018 e 2019, os custos com fretamento (contratação externa) de serviços de voo tivessem passado de 205 milhões de euros para 10 milhões”, garante o SPAC.
“Certamente que em vez de debater os salários dos pilotos da TAP, deveria ser explicado aos portugueses o porquê de, entre 2018 e 2019, os custos com as irregularidades operacionais da companhia (custos em que a TAP incorreu devido a indemnizações por atrasos, irregularidades, cancelamentos de voos, despesas de alojamento de passageiro, entre outras) terem sido de 57 e 70 milhões de euros, respetivamente, e do indicador “Outros Gastos” ter sido, no mesmo período, de 170 e 179 milhões de euros”, rematou o sindicato.
Em conferência de imprensa na passada sexta-feira, o SPAC assegurou que os pilotos da TAP estão dispostos a aceitar as condições aplicadas na congénere Lufthansa: "Estamos dispostos a aceitar as mesmas condições que forem aplicadas aos pilotos da Lufthansa. Os meios de produção são os mesmos", afirmou o presidente do SPAC, Alfredo Mendonça.
A companhia alemã despediu cerca de 20% dos trabalhadores e fez cortes salariais de 45% no caso dos pilotos e de 25% nos restantes.
O Governo anunciou na quinta-feira ter entregado à Comissão Europeia (CE) a proposta inicial do plano de restruturação da TAP, que prevê para o próximo ano um auxílio do Estado de 970 milhões de euros.
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