António Valente era um de vários taxistas que estavam, à hora de almoço, em redor de uma cozinha improvisada à entrada da estação de metro da Avenida, em Lisboa. À disposição dos colegas de profissão havia bifanas, prontamente aquecidas num fogão ligado a uma botija de gás.
“Não sabemos o tempo que aqui vamos ficar. A nossa associação é que sabe, nós não. Estamos dispostos a ficar, se nos disserem para pernoitar, pernoitamos”, afirmou o taxista.
Jorge Miguel, taxista de Lisboa que se juntou ao protesto contra a entrada em vigor, a 01 de novembro, da lei que regula as quatro plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal, disse à agência Lusa que no seu carro, um entre as várias centenas que ocupam as faixas ‘Bus’ da zona da Avenida da Liberdade, tem um saco-cama pronto para “o que for preciso”.
Também João Figueiredo, que esperava ansioso por novidades das reuniões que estavam a decorrer na Assembleia da República, dos representantes do setor do táxi com os grupos parlamentares do PS, BE, CDS-PP, PCP e PEV, confidenciou à agência Lusa que trouxe um edredão para o protesto que começou às 05:00.
“Espero que tragam boas notícias e que consigamos exercer os nossos direitos e convicções. Só saímos quando as nossas coisas estiverem resolvidas, quando nos garantirem os nossos direitos e reivindicações. (…) Estou preparado para ficar até sexta-feira se for preciso”, afirmou o taxista.
António Valente considerou ainda que este protesto “é maior” que os últimos três grandes desde 2015, afirmando que há poucos carros a trabalhar neste dia.
Os taxistas manifestam-se hoje em Lisboa, Porto e Faro contra a entrada em vigor, em 01 de novembro, da lei que regula as quatro plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal – Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé.
Desde 2015, este é o quarto grande protesto contra as plataformas que agregam motoristas em carros descaracterizados, cuja regulamentação foi aprovada, depois de muita discussão, no parlamento, em 12 de julho, com os votos a favor do PS, do PSD e do PAN, os votos contra do BE, do PCP e do PEV, e a abstenção do CDS-PP.
A legislação foi promulgada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 31 de agosto.
Os representantes do setor do táxi enviaram à Assembleia da República um pedido para serem hoje recebidos pelos deputados, a quem vão pedir que seja iniciado o procedimento de fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma e que, até à pronúncia do Tribunal Constitucional, se suspendam os efeitos deste, “por forma a garantir a paz pública”.
Um dos principais ‘cavalos de batalha’ dos taxistas é o facto de, na nova regulamentação, as plataformas não estarem sujeitas a um regime de contingentes, ou seja, a existência de um número máximo de carros por município ou região, como acontece com os táxis.
Desta vez, os táxis mantêm-se parados nas ruas e não realizam uma marcha lenta. Durante a manhã, mais de 1.400 carros concentraram-se nas três cidades, segundo a organização: mais 1.000 em Lisboa, cerca de 200 em Faro e perto de 280 no Porto.
A dois dias da manifestação, o Governo enviou para as associações do táxi dois projetos que materializam alterações à regulamentação do setor do táxi, algo que os taxistas consideraram "muito poucochinho", defendendo que o objetivo do Governo foi “desviar as atenções” da concentração nacional de hoje.
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